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“Todo dia nasce um otário” Para o professor americano Terrance Odean, muitos investidores se dão mal na Bolsa porque sabotam a si mesmos

O professor Terrance Odean, responsável pelo curso de finanças da escola de administração da Universidade da Califórnia, dedicou boa parte de sua carreira ao estudo do comportamento dos investidores. Recentemente, suas ideias inspiraram uma reportagem de capa da revista Forbes sobre o tema. Segundo Odean, muitos investidores vivem um processo inconsciente de autossabotagem e têm vícios que afetam de forma recorrente seus resultados, como o excesso de confiança e a busca de objetivos de curto prazo. Nesta entrevista a ÉPOCA, ele afirma também que sempre haverá investidores que perdem dinheiro na Bolsa por acreditar que podem negociar de igual para igual com os profissionais. “Todo dia nasce um otário”, diz.

ÉPOCA – O senhor diz que muitos investidores costumam se autossabotar. O que quer dizer com isso?
Terrance Odean – Os investidores individuais têm vários vícios que afetam seus resultados na Bolsa. Muitos investidores são muito otimistas e autoconfiantes. Eles tendem a tomar decisões com base no desempenho recente das ações e a comprar papéis que estão em evidência na mídia. Compram quando as cotações estão subindo, na expectativa de que continuem a subir. E, quando elas começam a cair, tendem a aprofundar as perdas porque não gostam de vender as ações e reconhecer o prejuízo. Eles também costumam superestimar suas habilidades. Acreditam que sabem o que vai acontecer porque agora têm mais acesso a informações sobre as empresas com ações negociadas na Bolsa. Mas, muitas vezes, não se perguntam quem estará do outro lado do negócio. Em geral, eles vão negociar com investidores institucionais (seguradoras, fundos de pensão e fundos de investimento), que têm mais experiência e acesso a mais pesquisas. É ingênuo imaginar que possam enfrentar em igualdade de condições os profissionais do mercado.

ÉPOCA – Quer dizer que os investidores individuais sempre levarão a pior na Bolsa?
Odean – Eu participei de um estudo sobre a Bolsa de Taiwan em que fizemos um acompanhamento de todos os negócios de investidores individuais durante cinco anos. Descobrimos que, como grupo, eles tiveram desempenho bem pior que o dos investidores institucionais. Somando a taxa de corretagem, a tributação e os prejuízos causados por erros na escolha do melhor momento de entrar e sair do mercado, as perdas dos investidores individuais chegavam a US$ 32 bilhões (R$ 54,4 bilhões) por ano – cerca de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) de Taiwan. Isso representava uma redução de 3,8%, em média, ao ano nos ganhos – o que é bastante. Depois de 15 anos de pesquisa na área, cheguei à conclusão de que as decisões dos investidores individuais nem sempre são as melhores. Quem negocia ações diretamente na Bolsa, em especial aqueles que operam ativamente, costuma ter um resultado pior do que quem investe em fundos de ações, administrados por profissionais do mercado, com um horizonte de prazo mais longo.

ÉPOCA – O senhor costuma dizer também que a maioria dos investidores tende a seguir a multidão. O que explica isso?
Odean – Trata-se de um fenômeno que os acadêmicos chamam de “viés de autoexaltação”. Ele faz as pessoas se sentirem bem consigo mesmas. Elas escutam histórias de quem se deu bem e também de quem se deu mal. Mas, em geral, quem se deu bem fala mais sobre isso do que quem sofreu perdas dramáticas. Aí, o pessoal pensa: “Se o fulano pode fazer, eu também posso”. Quando uma pessoa se dá bem em alguma coisa, tende a se vangloriar: “Eu realmente sou esperto”. E quem se dá mal costuma culpar o mercado e as outras pessoas pelo próprio fracasso. Tende a ser verdade a máxima de que, quando o engraxate entra no mercado, é hora de sair.

<a href=”http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI179467-15259,00-TERRANCE+ODEAN+VOCE+E+SEU+PIOR+INIMIGO.html”>Leia a entrevista completa publicada na revista Época