Depois de três anos de reclusão, o ex-governador e ex-senador cearense Tasso Jereissati, ex-presidente do PSDB e uma das principais lideranças nacionais do partido, decidiu romper o silêncio. Na semana passada, ele recebeu ÉPOCA no seu escritório em Fortaleza, num edifício comercial junto ao Shopping Iguatemi, de sua propriedade. O empresário de 64 anos falou sobre política e as perspectivas eleitorais de Aécio Neves. Embora tenha afirmado em 2010, depois de perder a reeleição para o Senado, que aquela seria sua última disputa, Jereissati não descartou a possibilidade de atender a um pedido de Aécio e disputar novamente uma vaga no Congresso Nacional no ano que vem.
ÉPOCA – Em 2010, quando perdeu a reeleição para o Senado, o senhor disse que seria sua última disputa. Recentemente, o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência em 2014, afirmou que gostaria de vê-lo como candidato ao Senado ou ao governo do Estado, para puxar votos no Ceará. Sua hibernação política acabou?
Tasso Jeireissati – Com certeza, um pedido do Aécio vale muito. Tenho muita vontade de ajudá-lo e de ver uma grande mudança acontecer no país. Em política – aliás, na vida de forma geral –, aprendi uma coisa: é muito arriscado dizer que dessa água não beberei. Agora, a probabilidade de isso acontecer é muito pequena. Prefiro que surjam novos nomes. Estou convencido de que boa parte dessa geração de políticos está vencida. A política do jeito como é feita hoje no Brasil está vencida. Há um cansaço generalizado com a política tradicional, o desprezo pela opinião pública, a falta de compromisso com as ideias. Hoje, há espaço para gente nova, não necessariamente nova de idade, mas com ideias novas, que não tenha os vícios da política atual e represente uma ruptura com o que se vê por aí. A população não suporta mais o que é feito em termos de gestão pública e política no país. A grande maioria dos políticos, com honrosas exceções, é viciada em politicagem.
ÉPOCA – De certa forma, não foi isso que Lula fez quando indicou Dilma Rousseff, que nunca participara de uma eleição?
Jereissati – Só que ela não usou isso para melhorar sua administração, uma das mais equivocadas que o país já teve. Num primeiro momento, parecia que Dilma faria uma ruptura, ao menos em relação à política tradicional. No primeiro ano de governo, demitiu um ministro corrupto por mês. Só que ela fez uma espécie de carrossel. Demitiu e foi readmitindo todo mundo de volta. Acabou desempenhando o pior dos papéis, porque não tem a habilidade política do Lula. Fazer política com alguém completamente inábil é um desastre.
ÉPOCA – Em que medida Aécio é diferente desses políticos que o senhor critica?
Jereissati – O Aécio tem algumas características importantes para o futuro. Primeiro, é um homem de posições firmes, apesar de sua visão conciliadora. Nisso, ele lembra muito o Tancredo Neves, seu avô. Outra coisa que Aécio tem é indispensável no Brasil de hoje para quem quer ser presidente da República: é um senso de administração pública que dá a pessoas competentes a responsabilidade pela gestão das políticas públicas, arrasadas pelo aparelhamento e pela politicagem. Isso é fundamental para mudar o Brasil.
ÉPOCA – O PSDB não consegue vender bem suas ideias para a população. Nas últimas eleições, evitou até defender a privatização, uma bandeira do partido. O que acontece?
Jereisssati – Fizemos um erro brutal quando, equivocadamente, nos entregamos ao marqueteiro da campanha. O marqueteiro olha as pesquisas e diz: a população é contra a privatização, contra a elite, contra isso, contra aquilo e diz que temos de ser contra também. Deixamos de defender aquilo em que acreditávamos para seguir a orientação pura e simples do marqueteiro, negando nossa própria obra, nossos trunfos. A privatização do Brasil foi um marco na luta contra a corrupção. Fernando Henrique representava essa grande revolução no Brasil, a reforma do Estado. Ficamos com vergonha disso e, infelizmente, não nos demos conta na eleição seguinte. Resultado: acabamos perdendo a classe média. Agora, há um processo inverso. Ao contrário do que aconteceu quando fomos influenciados pela marquetagem, há no PSDB um orgulho do que fizemos no passado. Hoje, há uma repulsa ao que é feito, e as ruas estão aí para mostrar isso. Com certeza, há um fato novo. Se não recuperamos ainda a classe média, o certo é que o PT a perdeu.
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