Após o vexame na Copa do Mundo, com a goleada de 7 X 1 contra a Alemanha, o Brasil corre o risco de repetir a dose nas Olimpíadas, em agosto, no Rio de Janeiro. Só que, agora, em vez de a humilhação se dar nos gramados, como em 2014, ela poderá ocorrer fora de campo, se o surto de zika vírus que atinge o país não for controlado até lá.
A apenas cinco meses das Olimpíadas, o maior evento esportivo do planeta, o mundo todo está olhando, mais que nunca, para o Brasil. Apesar de a imagem do país já estar arranhada por causa do petrolão, um dos maiores escândalos de corrupção em todos os tempos, nada afetaria mais a imagem do Brasil lá fora do que deixar o vírus “zikar” as Olimpíadas.
O governo está tentando criar um clima de “todos juntos vamos, pra frente, Brasil”, para tentar engajar a população e a sociedade civil no combate ao mosquito. Mas, diante de seu retrospecto desastroso em todos os campos, há muitas dúvidas de que a presidente Dilma Rousseff consiga alcançar resultados satisfatórios na luta contra o zika, debelando de vez o medo de o público e os atletas virem ao país. O governo afirma que, como as Olimpíadas serão disputadas no inverno, o período é menos propício à proliferação do Zika, que se propaga mais no verão, mas não dá para confiar só nas efemérides para garantir proteção aos estrangeiros nas Olimpíadas.
Leia o texto publicado no site da revista Época
Apesar dos desmentidos oficiais, há temores em Brasília de que o zika possa gerar uma onda de desistências de pacotes turísticos por uma parcela considerável dos 500 mil estrangeiros esperados no Rio para as Olimpíadas. Alguns casos já foram registrados na Argentina e principalmente no Chile, mas ainda faltam cinco meses até a realização do torneio. Até agosto, muita coisa ainda pode acontecer.
Desde já, há muita inquietação no exterior com o problema. Nos Estados Unidos, o Comitê Olímpico desmentiu uma notícia de que teria liberado atletas americanos para não participarem dos Jogos do Rio, por causa do zika. Mas um dirigente de uma federação, que recebeu o comunicado do comitê, confirmou a informação. “As federações foram informadas de que ninguém deve ir ao Brasil se não se sentir confortável”, disse Donald Anthony, presidente da federação de esgrima dos EUA, a USA Fencing. “Uma das coisas que foi dita de maneira imediata foi que mulheres que estão grávidas ou pensam em engravidar não devem ir ao Rio, ainda que tenham isso previsto.”
No Quênia, o Comitê Olímpico também voltou atrás, depois de ter ameaçado não levar os atletas do país ao torneio. “Não vamos arriscar levar quenianos (ao Brasil) se esse vírus zika atingir níveis epidêmicos. Eles (Brasil) devem assegurar que o país é seguro o suficiente”, havia afirmado o chefe do comitê, Kipchoge Keino. Depois, pressionado, procurou amenizar as críticas. “É muito cedo para determinar o status do vírus durante a competição”, disse.
Vários atletas também têm expressado preocupação com a situação e ameaçado não vir ao Rio. A nadadora espanhola Mireia Belmonte afirmou que cogita não participar da competição por causa do zika. A goleira de futebol dos EUA, Hope Solo, também disse temer o vírus. Casada com o ex-jogador de futebol americano Jerramy Stevens ela declarou que ainda não sabe o dia em que terá um filho, mas “jamais correria o risco de ter uma criança doente”. “Se eu tivesse que escolher hoje, eu não iria”, afirmou Solo. “Competir nas Olimpíadas deve ser seguro para todo atleta, homem e mulher. Atletas femininas não devem ser forçadas a tomar uma decisão que poderia afetar a saúde de uma criança.”
Diante do agravamento do surto do zila vírus no país, a mídia internacional deu um tom alarmista à questão. Num artigo escrito por dois especialistas em saúde – Arthur Caplan, chefe da cadeira de ética médica na Universidade de Nova York, e Lee Igel, professor assistente de clínica médica na mesma instituição –, a revista americana Forbes chegou a questionar se não seria o caso de cancelar os Jogos do Rio e transferi-los para outro lugar. “Está começando a parecer que chegou a hora de cancelar os jogos olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro”, dizia o artigo. “Quem irá para o Rio no meio de um surto de zika? Mulheres jovens não podem viajar em segurança para o país.”
Na semana passada, o New York Times publicou uma reportagem que discutia o risco a que estarão expostos os atletas que terão de se deslocar para outros locais do Brasil, como Manaus, que deverá receber partidas de futebol feminino. A cidade foi definida pelo jornal como “a isolada porta de entrada para a Amazônia, onde canais cobertos com lixo e esgoto foram evidenciados durante a Copa do Mundo de 2014”. “O futebol ajuda a ilustrar a posição conflitante e estranha em que atletas do sexo feminino podem ser colocadas se considerarem viajar para o Brasil e arriscar ter complicações na gravidez causadas pelo vírus, que é transmitido por um mosquito”, diz a reportagem do jornal.
Outros veículos seguiram no mesmo tom. “O vírus zika pode ser a sentença de morte para a Olimpíada?”, perguntou o jornal britânico Daily Mail em seu site na internet. Na avaliação do Mail, o zika e o risco da microcefalia colocam a Olimpíada do Rio “à beira do desastre”. “Faltando menos de 200 dias para a cerimônia de abertura, os Jogos enfrentam uma crise, com países de todo o mundo começando a temer não apenas pelos torcedores, mas também pelos seus atletas”, afirmou o Mail.
É claro que ninguém quer que o surto do zika se perpetue no país, a ponto de ameaçar o sucesso de um evento global como as Olimpíadas, no principal cartão postal brasileiro. Mas, depois de o país investir no evento cerca de R$ 40 bilhões, boa parte dos quais em recursos públicos, o risco de a a Olimpíada do Rio “zikar” não pode ser descartado, com efeitos dramáticos para a imagem do Brasil lá fora. Se a Olimpíada realmente “zikar”, será a “pá de cal” no sonho do Brasil grande alimentado pelos governos petistas comandados por Lula e Dilma nos últimos 13 anos, já em ruínas com a crise econômica e política que atinge o país. A total incapacidade de gestão do governo, com a qual os brasileiros têm sido obrigados a conviver nos últimos anos, estará exposta ao mundo, para quem ainda tem alguma dúvida disso.
Você precisa fazer log in para comentar.