O diplomata e economista Rubens Ricupero vê com ceticismo a perspectiva de o Brasil dar uma guinada radical no governo Temer. Ex-embaixador em Washington e ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente no governo de Itamar Franco, ele diz que não é “realista” acreditar na promoção de uma reforma sistêmica na atual conjuntura. “Prefiro adotar uma atitude realista sobre o que é viável, levando em conta não o planeta ideal, mas o planeta Brasil nesse momento”, afirma.
Segundo Ricupero, o cenário hoje está muito mais complicado do que na época do impeachment de Collor, em 1992. Primeiro, por causa da Operação Lava Jato; segundo, pela incerteza relacionada ao processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para apurar denúncias relacionadas ao financiamento irregular da chapa Dilma-Temer nas eleições de 2014; e terceiro, porque o País está muito mais dividido do que naquela época. Nesta entrevista, realizada para a série “A reconstrução do Brasil”, lançada pelo Estado para discutir os grandes desafios do País pós-impeachment, Ricupero diz também que os sinais de esgotamento do atual sistema político são tão generalizados que ele só sobreviverá se demonstrar que é capaz de realizar as mudanças de que o País precisa. “Sem as reformas, cedo ou tarde, a gente vai caminhar para uma crise fatal.”
Estado – O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff criou uma oportunidade para o Brasil discutir as suas mazelas e mudar de rumo. Como o senhor vê essa perspectiva?
Rubens Ricupero – Olhando o panorama que nos cerca, eu tenho dúvidas de que isso possa acontecer. Se as reformas não avançaram nem com o Fernando Henrique em oito anos, com dois mandatos, nem com o Lula, em mais oito anos, com dois mandatos, por que pensar que seria possível levar avante grandes reformas, num governo de dois anos e quatro meses, que é apenas para completar o mandato? Eu diria que só a gravidade extrema da crise poderá nos conduzir por esse caminho. Realmente, há um sentimento de que nós estamos com uma crise extrraordinariamente grave. Às vezes, a premência da crise nos obriga a fazer grandes reformas. Mas até que ponto existe na sociedade brasileira, sobretudo naqueles que têm o poder de propor, discutir e votar as reformas, a consciência dessa premência e dessa gravidade? Ainda que a gente atribua ao governo Temer apenas a tarefa de evitar que a economia e a situação política continuem se deteriorando e de restaurar o mínimo de normalidade para chegar até o fim o mandato, que é uma proposta mais modesta, não será fácil. No fundo, o desafio de qualquer vice-presidente que se vê galgado à posição principal – foi o do Sarney, o do Itamar e agora do Temer – é como completar o mandato com um mínimo de qualidade e de eficiência.
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