O empreendedor e investidor americano Reid Hoffman, de 44 anos, é considerado uma espécie de Dale Carnagie da era digital. Como o autor do best-seller Como fazer amigos e influenciar pessoas, lançado em 1936, Hoffman é um virtuose do relacionamento. Recentemente, a revista Time disse, em tom de brincadeira, que ele sabe “uma coisa ou outra” sobre o assunto.
Na teoria e na prática. Hoffman não é apenas o fundador e o presidente do conselho de administração do LinkedIn, o maior site de relacionamentos profissionais do mundo, com 150 milhões de usuários e um valor de mercado de US$ 9,5 bilhões. Ele próprio desenvolveu uma rede de contatos gigantesca, e por causa disso se tornou um dos primeiros investidores do Facebook, o maior site global do gênero, e do Flickr – o site de compartilhamento de fotos. Formado em ciências cognitivas pela Universidade Stanford, nos Estados Unidos, com pós-graduação em filosofia pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, Hoffman trabalhou na área de desenvolvimento de produtos da Apple e da Fujitsu. Foi também vice-presidente executivo da PayPal, a empresa de pagamentos eletrônicos vendida por US$ 1,5 bilhão ao eBay, o site americano de compra e venda de produtos, pouco antes de criar o LinkedIn, no final de 2002.
Nesta entrevista, Hoffman fala sobre seu novo livro – Comece por você – Adapte-se ao futuro, invista e transforme sua carreira – que será lançado neste mês no Brasil pela editora Campus Elsevier. Ele também revela seus segredos para criar uma boa rede de relacionamentos e diz o que fazer para prosperar na carreira na era da globalização e da interconectividade.
ÉPOCA – Em sua opinião, o que se deve fazer para construir uma boa rede de relacionamentos?
Reid Hoffman – Antes de qualquer coisa, é preciso ajudar os outros, ser um bom aliado das pessoas que estão em sua volta, colaborando com elas e apoiando a solução de problemas e projetos. Aqueles que conseguem construir um bom networking estão conscientes de que muitas de suas ações serão retribuídas depois, mas não são calculistas em relação a isso. Eles pensam sobre seus relacionamentos o tempo todo, e não apenas quando precisam de ajuda. Não é que você deva ser tão ingênuo a ponto de acreditar que um pensamento interesseiro nunca passará por sua cabeça. Mas o primeiro passo deve ser ajudar. Essa é a melhor forma de agir e de ter as conexões certas, para ser bem-sucedido na construção de uma rede de relacionamentos. Um estudo sobre negociação mostrou que a diferença entre os negociadores medianos e os bem-sucedidos era o tempo gasto na pesquisa sobre interesses comuns com a outra parte, e também na realização de perguntas sobre o outro.
Época– Nos EUA, o senhor é considerado uma espécie de Dale Carnagie da era digital.Oque pensa disso?
Hoffman–Eu mais ou menos concordo comisso. O Dale Carnagie sabia como as conexões eram importantes. Mas ele é impreciso quando fala em“ganhar amigos”. Você não pode ganhar amigos.Um amigo não é um bem do qual você é dono, mas um aliado, um colaborador. Muitas pessoas procuram criar uma rede de relacionamentos pensando apenas no que os outros podem fazer por elas. Só se preocupam com os relacionamentos quando precisam de alguma coisa, como um emprego ou novos clientes. É como a sensação que você tem quando alguém fica repetindo seu nome o tempo todo numa conversa.O romancista americano Jonathan Franzen está certo ao dizer que as pessoas falsas são obcecadas por autenticidade.
“PARA FAZER UM
BOM NETWORKING,
VOCÊ DEVE
PRIORIZAR
RELACIONAMENTOS
DE QUALIDADE, EM
VEZ DE BUSCAR UM
NÚMERO GRANDE
DE CONEXÕES”
ÉPOCA – De que forma a internet e as redes sociais estão transformando os relacionamentos pessoais e profissionais?
Hoffman – Antes, não havia como manter uma rede ampla de relacionamentos, com que você podia entrar em contato a qualquer momento. Só havia a rede de trabalho de sua empresa e umas poucas pessoas que você conhecia. Hoje, você pode se relacionar não só com os colegas de trabalho atuais, mas com seus colegas antigos, com a turma da escola e com as pessoas que eles podem conhecer. Você também pode achar um blog interessante, entrar em contato com o autor e interagir com ele para buscar uma solução para um problema que está tentando resolver. Agora há um potencial de interação muito mais amplo e mais fontes para resolver um problema.
Esta entrevista, publicada pela Época, foi reproduzida parcialmente no site da revista
Época– Quer dizer, então, que agora todo mundo pode se relacionar com todo mundo?
Hoffman – Esse é um dos erros mais comuns na hora de construir uma rede de relacionamentos. Hoje, muitas pessoas tentam se conectar com todo mundo, colecionando tantos cartões de visita quanto for possível ou colocando qualquer um que tenha conhecido na vida como amigo virtual nas redes sociais. Elas vão atrás de alguém que não conhecem e dizem: “Oi , meu nome é Reid. Posso falar comvocê?”. Não é por aí. Para fazer um bom networking, você deve priorizar relacionamentos de qualidade, em vez de se preocupar em ter um grande número de conexões. Não precisa ser alguém com quem você deixaria seus filhos quando morrer, mas
pessoas a quem poderia perguntar se elas conhecem fulano ou sicrano e se poderiam ajudar a encontrá-lo. Elas provavelmente o ajudariam. E você as ajudaria também. De repente, se você conhecesse alguém que elas estão querendo conhecer, poderia colocá-las em contato com essa pessoa também.
Época – Em seu livro, o senhor fala sobre um “novo mundo do trabalho”.Oque quer dizer comisso?
Hoffman–Quero dizer que, nos últimos anos, a forma de as pessoas atuarem profissionalmente e de administrar em suas tarefas diárias e suas carreiras passou por uma grande transformação. Agora, você tem de agir como se fosse um empreendedor, o CEO de si mesmo.Aquilo que se aplica aos negócios se aplica
a você também. Hoje, independentemente de sua profissão, você precisa pensar sobre si mesmo como um empreendedor que está no leme de um negócio em crescimento: sua carreira. Você precisa assumir riscos inteligentes, ter uma rede de relacionamentos, pensar nas informações necessárias para fazer seu trabalho de forma mais eficiente e solucionar problemas específicos. Tem de prestar mais atenção a seu fluxo pessoal de oportunidades e buscar novas formas de se informar sobre o que está acontecendo em seu campo profissional, para poder fazer um trabalho melhor, como acontece quando alguém está mapeando um novo negócio. Cada um tem de investir mais em si próprio para aumentar suas qualificações profissionais, suas vantagens competitivas, e prestar mais atenção às forças que estão transformando a vida de todos nós.
Época – Em que isso é diferente do mundo em que estávamos acostumados a viver?
Hoffman–O mundo costumava ser bem mais previsível. Você ia para a faculdade, conseguia um emprego num cargo de iniciante e subia a escada da carreira trabalhando para uma ou duas empresas, no máximo. Hoje, não há mais aquela progressão contínua e rápida. Os jovens têm dificuldade para entrar na escada
corporativa. As pessoas de meia-idade, para ser promovidas. E os que têm mais de 60 anos têm dificuldade de parar de trabalhar. Você também troca várias vezes de emprego, avalia o tempo todo como está o desempenho de sua empresa e os setores mais promissores, para decidir o que fazer de sua carreira.
Antigamente, quando você trabalhava para uma companhia, ela pagava para treiná-lo. Agora – e acho que esse é um modelo mais eficiente –, você mesmo temde pagar para se qualificar.Quando você investe em si mesmo, aumenta seu valor econômico.
Época – O que está provocando essa mudança?
Hoffman–A força mais relevante é a tecnologia. Ela tem dois impactos diferentes: um é a globalização. O outro é a transformação que ela provoca no mundo do trabalho, na forma como ele funciona, nos produtos, nos custos, nos preços e no que é necessário para alcançar o sucesso. Com a mudança tecnológica, você
agora pode ser um programador de computador no Brasil e pode trabalhar do Brasil para uma empresa de qualquer lugar do mundo.
Época– Isso tudo não é apenas modismo empresarial?
Hoffman–Há uma nova base.No futuro, surgirão novas ideias sobre isso, mas acredito que essa é a tendência hoje, a forma pela qual todo mundo deve se colocar no trabalho e administrar suas carreiras. Cada um tem de ser mais adaptável, investir mais em si mesmo, aumentar seu valor econômico, refinando-se e aprendendo.
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