O publicitário Eduardo Lopes, de 27 anos, trabalhou duro para realizar um de seus sonhos de consumo: comprar um Corolla 2.0, automático, zero-quilômetro, de R$ 75 mil. Há um mês, ele trocou seu Fiat Idea, comprado em 2008, pelo sedã da Toyota, o carro mais vendido no mundo, em uma concessionária de Goiânia, onde mora. Deu de entrada seu Idea, avaliado em R$ 32 mil, e pagou R$ 43 mil à vista. Para comprar um carro que custa 15 vezes sua renda média mensal, de R$ 5 mil, Lopes usou uma poupança de R$ 25 mil, formada durante dois anos à base de economias e alguns trabalhos extras. “Eu poderia partir para um carro popular, que é bem mais barato, mas gosto de conforto e acho que mereço”, diz.
Em comparação com o preço cobrado pelo Corolla em outros países, Lopes pagou uma pequena fortuna. De 13 países pesquisados por ÉPOCA, o Brasil é onde ele custa mais caro (leia o quadro abaixo). Nos Estados Unidos, ele é vendido por R$ 32.800 (US$ 19 mil), menos da metade do preço daqui. Na China, por R$ 37.100. No México, por R$ 37.200. Na Alemanha, por R$ 50.700. O preço médio dos 13 países é de R$ 45.800, 60% do preço nacional. A diferença, de quase R$ 30 mil, poderia ter servido para Lopes fazer uma série de outros gastos – ou poupar mais.
O caso de Lopes e seu Corolla não é isolado. ÉPOCA pesquisou os preços de outros 16 produtos lá fora. Em 12 deles, os preços brasileiros ficaram acima da média internacional. Um litro de gasolina custa em torno de R$ 2,70 aqui, em comparação a uma média no exterior de R$ 2,25 – 17% a menos. Uma geladeira de 320 litros custa cerca de R$ 1.600; lá fora, a média é de R$ 941. Os únicos produtos em que os preços no Brasil são menores que a média internacional são uma caneta Bic tradicional, uma lata de Coca-Cola, um livro e um maço de Marlboro (o cigarro, sobretaxado nos países desenvolvidos por causa dos prejuízos à saúde, custa aqui 30% menos que no exterior).
Isso explica a volúpia com que os turistas brasileiros vão às compras quando viajam para o exterior. Segundo dados da Secretaria de Turismo dos Estados Unidos, os turistas que mais gastaram dinheiro no país em 2009 foram os brasileiros – US$ 4.800 per capita. Ficaram à frente de australianos e japoneses, conhecidos como os maiores gastadores do mundo. De acordo com o empresário gaúcho Henri Chazan, de 40 anos, presidente do Instituto da Liberdade, uma entidade voltada para a defesa da livre-iniciativa e dos direitos individuais, é possível pagar a passagem, de cerca de US$ 1.000 (R$ 1.800) só com a diferença entre os preços nos Estados Unidos e no Brasil. Chazan calcula que quem comprar seis camisas da griffe Tommy Hilfiger, quatro calças de sarja e dois tênis recém-lançados no mercado consegue tirar a passagem praticamente de graça. Lá, segundo ele, as camisas custam R$ 45 (US$ 25) num outlet perto de Miami. Aqui, R$ 150. As calças saem por R$ 55 (US$ 30) lá e por R$ 150 aqui. Os dois tênis custam R$ 300 lá e R$ 1.000 aqui. Some tudo: R$ 1.700 a menos. Chazan diz que recentemente ele e sua mulher compraram um carrinho de bebê Peg-Pérego Pliko P3 em Miami por R$ 410 (US$ 229). No Brasil, ele custa R$ 1.100, quase o triplo. “Como sou pobre, só compro nos Estados Unidos”, brinca. “Não é consumismo. É que lá é mais barato e o produto é melhor.”
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