No início dos anos 1960, o cronista, radialista e compositor Sérgio Porto (1923-1968), mais conhecido pelo pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, criou uma expressão que virou título de um de seus livros e passou a fazer parte do folclore político nacional — o Festival de besteiras que assola o país, o Febeapá. Embora criada há cerca de 50 anos, a tirada de Stanilaw parece feita sob medida para definir os comentários de autoridades de Brasília a respeito dos tais rolezinhos.
Afinal, em que outra categoria seria possível enquadrar a afirmação da ministra da Igualdade Racial, Luíza Bairros (PT), de que os jovens que participam dos rolezinhos em shoppings são vítimas de “discriminação racial explícita”? De que outra forma poderíamos classificar a afirmação do ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, de que os shoppings estão promovendo “discriminação social” ao proibir a entrada de jovens da periferia?
Por mais que eu tente visualizar o que eles estão dizendo na prática, não consigo encontrar correspondência com a realidade. Eu sou branco, de olhos azuis, como diz o ex-presidente Lula, mas desde que entrei num shopping pela primeira vez, logo depois da inauguração do Iguatemi, em São Paulo, em meados dos anos 1960, NUNCA vi um negro ser proibido de entrar ou ser discriminado. Também nunca vi isso acontecer com um trabalhador, por mais simples que ele seja.
O Shopping Jardim Sul, em São Paulo, que foi um dos alvos dos rolezinhos, por exemplo, é um dos destinos preferidos pelo pessoal da favela Paraisópolis, na região do Morumbi, nos fins de semana. É lá que muitas famílias da comunidade levam seus filhos para passear, tomar sorvete no McDonald’s e mesmo para ir ao cinema. Ao que se sabe, eles nunca foram impedidos de entrar no shopping por causa de sua condição social ou por causa da cor da pele.
Para mim, o que os shoppings e os lojistas estão fazendo é apenas proteger o próprio patrimônio e garantir a integridade dos consumidores de todas as raças, idades e classes sociais que costumam frequentá-los e que passaram a vê-los como ilhas de segurança no faroeste em que as grandes cidades brasileiras se transformaram. Como empreendimentos privados, os shoppings têm todo o direito de fazer isso e de se precaver contra tumultos, ocasionais ou orquestrados, que podem acabar provocando grandes prejuízos. Ou não?
Embora a gauche chapa branca, espalhada pela mídia, pela academia, pelo mundo cultural e até pelos saraus da zona sul, faça coro com os ministros de Dilma e defenda os rolezinhos como manifestações pacíficas contra a elite, é difícil imaginar que uma turba juvenil, infiltrada por militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e outras entidades ligadas ao PT e outros partidos de esquerda, possa entrar num shopping center sem que haja qualquer contratempo.
Se os rolezinhos realmente fossem uma forma de protesto contra a elite e contra a discriminação racial e social, como eles dizem, será que os participantes iriam incluir um shopping popular como o de Itaquera, localizado numa das regiões mais pobres e menos desenvolvidas de São Paulo, entre seus pontos de encontro? Provavelmente, não.
Nessas circunstâncias, não vejo nada de errado de os shoppings requisitarem proteção policial e de a polícia agir caso a coisa ameace virar bagunça ou caso os manifestantes tentem forçar a entrada no shopping.
Hoje em dia, no Brasil, qualquer ação policial vira alvo de críticas contundentes, muitas vezes feitas com fins políticos, principalmente em ano eleitoral. Em vez de as críticas serem dirigidas aos que tumultuam ou pretendem tumultuar a vida dos cidadãos, dos trabalhadores, o alvo preferencial é sempre a polícia. Não que a polícia seja perfeita. Não é. Está longe de ser. Isso não justifica que ela concentre as críticas e que alguns veículos de imprensa estejam sempre mais preocupados com a reação da polícia do que com as barbaridades cometidas pelos manifestantes.
Muitas autoridades têm medo de que as imagens da ação policial sejam usadas contra elas na campanha eleitoral na TV. Ficam paralisadas, com receio de perder votos. Estou convencido, porém, de que se elas agirem para preservar e defender os direitos da maioria, garantir o direito de ir e vir da população e proteger o patrimônio público e privado serão beneficiadas nas urnas. Essa coisa de que cada um pode fazer o que quiser, na hora que bem entender, sem dar a mínima para os direitos dos outros, só faz sentido na ótica enviesada dos ministros petistas e de sua estratégia eleitoreira.
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