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Os jornalistas, a morte de Lady Thatcher e o luto dos liberais A dama de ferro nunca teve grande prestígio nas redações, mas, por sua obra, mereceria uma demostração explícita de reverência

Presto aqui meu (modesto) tributo a Margaret Thatcher. Hoje de manhã, no início da reunião semanal de pauta de Época, sugeri que fosse observado um minuto de silêncio em homenagem a Lady Thatcher. Deram risada, e a reunião seguiu em frente. Eu mesmo, provavelmente, fiz a proposta mais como uma provocação aos colegas, que conhecem a minha admiração pela dama de ferro e por sua obra. Entre eles, ela não goza de muito prestígio, mas bem que mereceria uma demonstração explícita de reverência.

A morte de Thatcher, aos 87 anos, depois de uma longa agonia vivida por conta de uma doença degenerativa, deveria ser marcada por um período de luto oficial no país. Se a presidente Dilma decretou luto oficial de três dias quando o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez morreu, há um mês, por que o mesmo não deve valer para Lady Thatcher, cujo papel histórico foi muito mais relevante que o do caudilho Chávez? Se Chávez mereceu três dias, talvez, no caso Thatcher, a bandeira brasileira devesse ficar uma semana a meio pau. Ou um mês, quem sabe – se é que o número de dias de luto guarda alguma relação com a importância do falecido (ou da falecida).

Nos anos 1980, quando a Inglaterra havia se tornado refém do ativismo sindical, abalada por greves intermináveis que paralisavam o país, Thatcher enfrentou as barricadas erguidas nas ruas pelos sindicatos. Até os seus pares do Partido Conservador temiam o impacto eleitoral negativo que sua brava atitude poderia provocar. Depois de fechar minas de carvão obsoletas e improdutivas e promover a privatização de serviços públicos, ela colocou o Reino Unido de volta na trilha do capitalismo e da livre iniciativa. Devolveu o país aos dias prósperos que haviam marcado boa parte de sua história. Junto com o ex-presidente americano Ronald Reagan, ressuscitou os ideais do liberalismo mundo afora, que andavam meio por baixo naqueles tempos de Guerra Fria, em que properavam no Ocidente o movimento dos não-alinhados e a social democracia.

Por sua determinação, suas realizações e sua contribuição para a causa da liberdade, a perda de Lady Thatcher é irreparável. Suas ideias, porém, não têm data de validade. Ironicamente, Thatcher se foi numa fase de crescente intervenção do Estado na economia global e de aumento de gastos públicos financiados pela viúva em quase todo o planeta — duas políticas contra as quais ela lutou duramente quando estava no poder. O consolo é que, provavelmente, Lady Thatcher deverá rir à toa lá do céu quando chegar a conta dessa farra toda.