O economista Paulo Leme, de 60 anos, está numa posição privilegiada para avaliar a imagem do Brasil no exterior. Como presidente do Goldman Sachs – um dos principais bancos americanos de investimento – no país, ele mantém contato permanente com os investidores estrangeiros e acompanha de perto as variações de humor em relação ao Brasil. Antes de voltar ao país, em 2012, Leme morou durante 33 anos nos Estados Unidos. Lá, foi economista-chefe para mercados emergentes do próprio Goldman, no qual entrou em meados dos anos 1990, e trabalhou durante dez anos no Fundo Monetário Internacional (FMI) – chegou a economista sênior. Nesta entrevista, Leme diz que o petrolão provocou “uma depreciação significativa no capital de credibilidade” do país. Ainda assim, segundo ele, com a mudança da equipe econômica no segundo mandato de Dilma, os investidores externos “estão nos dando o benefício da dúvida” e poderão participar do programa brasileiro de concessões se o governo deixar o mercado precificar a taxa de retorno dos projetos.
ÉPOCA – A presidente Dilma foi aos Estados Unidos para “vender” o programa de concessões e dar um sinal claro de que o desconforto gerado pelo escândalo da espionagem americana ficou para trás. O senhor acredita que essa viagem trará resultados efetivos ao país?
Paulo Leme – Uma viagem só não vai resolver o problema, mas é uma excelente iniciativa. Com o tamanho, o dinamismo e a pujança da economia americana, os Estados Unidos são um parceiro fundamental para o Brasil. Temos de voltar a nos aproximar deles nos próximos anos, não apenas em termos comerciais, como de investimento, tanto diretos como em portfólio (ativos financeiros). Precisamos fortalecer os laços com o setor produtivo e também com os fundos de pensão, que investem em ativos no exterior. Insistir no Mercosul e em economias que não crescem não nos levará a lugar algum. Além disso, o programa brasileiro de investimentos em infraestrutura vai exigir uma participação muito expressiva do capital estrangeiro, porque temos uma poupança muito baixa. Uma das sequelas da política macroeconômica dos últimos anos foi destruir a nossa taxa de poupança. Hoje, ela beira 15% do PIB (Produto Interno Bruto), quando a gente precisaria de 20%. O nosso hiato é de US$ 100 bilhões a US$ 120 bilhões por ano. O governo tem uma taxa negativa de poupança. Por isso, a complementaridade da poupança externa é vital para o país.
ÉPOCA – Como está a percepção dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil?
Leme – Mais importante que a percepção são os resultados. Ao analisar o balanço de pagamentos, especialmente a conta de capitais, você vê que a entrada de investimentos de portfólio está crescendo 27% em relação ao ano passado, em particular na renda fixa, devido ao aumento dos juros, mas também na Bolsa de Valores. Do volume de negócios na Bolsa, um quarto é de investidores estrangeiros. Em 2014, você teve praticamente zero de entrada líquida de recursos externos em renda variável. Neste ano, já houve um ingresso líquido de US$ 7 bilhões ou US$ 8 bilhões. Com a queda das ações e a desvalorização do real, os preços ficaram bem mais baixos em dólar e voltaram a atrair os investidores.
ÉPOCA – O problema é que esse é um capital especulativo que pode ir embora a qualquer momento. Isso não pode gerar uma instabilidade desnecessária mais à frente?
Leme – O Brasil precisa de US$ 100 bilhões líquidos de recursos externos, para cobrir o deficit em conta-corrente no ano, que é de 4,5% do PIB. Deste total, US$ 60 bilhões deverão vir sob a forma de investimento direto, para empresas, fusões e aquisições e compras de fazendas e terrenos, e US$ 40 bilhões virão como investimentos financeiros. Como nossa poupança despencou e o deficit externo é grande, o país passou a ser altamente dependente desse dinheiro de curto prazo. Na renda fixa, onde mais você encontra taxas de juros de 13,75% ao ano e taxas reais de 5% ou 6% ao ano? Em nenhum lugar do mundo.
Leia a ntrevista completa de Paulo Leme publicada na revista Época
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Leia entrevista de Paulo Leme publicada na revista Época em 2009
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