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“Os derivativos não são os vilões da crise” Para o financista dos EUA, banir essas ferramentas inovadoras do mercado é voltar à Idade da Pedra

O financista americano Leo Melamed, de 76 anos, é uma das maiores autoridades mundiais no campo minado dos derivativos – aquelas ferramentas de altíssimo risco que proliferaram no mercado financeiro nas últimas décadas e, segundo muitos analistas, estariam na origem da atual crise global. Ex-presidente da Bolsa Mercantil de Chicago (CME), a maior Bolsa de derivativos do mundo (sócia da BM&F Bovespa no Brasil), Melamed é considerado o pai dos mercados futuros de ativos financeiros, como moedas, juros e índices de ações. Ele afirma que os derivativos desempenham um papel importante, porque permitem ao investidor se proteger das variações de preços. “É muito fácil dizer que o grande problema da crise foram os derivativos”, disse Melamed a ÉPOCA. Ele esteve recentemente no Brasil para participar de um seminário sobre contratos futuros de fontes renováveis de energia, em especialo etanol. “Se você tentar banir o uso dos derivativos, vamos voltar à Idade da Pedra nas finanças.”

ÉPOCA – Muitos analistas dizem que os derivativos foram os grandes vilões da crise. O senhor concorda com eles?
Leo Melamed – É muito fácil dizer que o grande problema da crise foram os derivativos. Mas isso não é verdade. Os derivativos desempenham um papel muito importante no mercado, porque permitem ao investidor se proteger contra as variações de preços dos ativos financeiros e das commodities, como petróleo, milho e soja. Se você tentar banir o uso de derivativos, vamos voltar para a Idade da Pedra nas finanças. Os mecanismos de proteção e de negociação têm de ser parte do sistema financeiro.

ÉPOCA – Os derivativos não precisariam ser mais regulamentados, para evitar os excessos cometidos pelos grandes bancos globais, que aplicaram trilhões de dólares em operações de alto risco?
Melamed – Primeiro, é preciso separar os diferentes tipos de derivativos existentes na praça. As operações feitas nas Bolsas de Futuros são consideradas como derivativos, mas funcionam muito bem. Elas são regulamentadas pelo governo e, mesmo durante o pior momento da crise, não houve inadimplência de investidores. Também não houve ajuda governamental. Nos mercados futuros, há uma central de liquidação que garante as operações de todos os participantes. Todos os dias são feitos ajustes das posições de acordo com o valor de mercado de cada ativo. Ninguém fica devendo nada para ninguém. A questão é que nem tudo pode ser negociado nas Bolsas de Futuros. Existem operações sob medida, realizadas diretamente entre os bancos e as empresas, no mercado conhecido como “de balcão”. Foi aí que houve problemas.

ÉPOCA – O que provocou esses problemas no mercado de balcão?
Melamed – Nos últimos dez anos, surgiram derivativos no mercado de balcão americano que não eram regulamentados nem supervisionados pelas autoridades. Eles eram vendidos com o argumento de que “isso vai lhe dar um grande retorno; você deve investir nisso”. As agências de classificação de risco não compreendiam direito o risco envolvido nas operações que estavam avaliando.

Leia a entrevista completa publicada na revista Época