O escritor americano David Harsanyi é um duro crítico das iniciativas governamentais que pretendem determinar o que comemos, o que bebemos, os remédios que tomamos e o que vemos na TV. Segundo Harsanyi, autor do livro O Estado babá – Como radicais, bons samaritanos, moralistas e outros burocratas cabeças-duras tentam infantilizar a sociedade, recém-lançado no Brasil, não cabe ao governo dirigir o comportamento dos indivíduos e determinar um padrão moral para a sociedade. “Para mim, não é dever do Estado proteger as pessoas delas mesmas”, afirmou a ÉPOCA na semana passada, ao passar pelo Rio de Janeiro para dar uma palestra sobre o tema. “Nada justifica o comprometimento da liberdade.”
ÉPOCA – O que o senhor quer dizer com “Estado babá”?
David Harsanyi – Quando falo em “Estado babá”, estou me referindo às iniciativas do governo para forçar os indivíduos a fazer alguma coisa. Não coisas grandes, como em uma ditadura, mas pequenas coisas, com o objetivo de tentar dirigir o comportamento dos indivíduos e determinar um padrão moral para a sociedade. Acho que não cabe ao governo fazer isso.
ÉPOCA – Na prática, o que isso significa?
Harsanyi – Uma das ações mais conhecidas do Estado babá é a proibição do fumo em restaurantes (adotada tanto nos EUA como no Brasil). Mesmo que o dono do restaurante queira permitir o fumo em seu estabelecimento, ele não pode. Outro campo que o Estado babá costuma regular muito é o de alimentação. Nos EUA, há leis determinando como deve ser a comida das crianças na escola. Em alguns lugares, elas não podem sequer fazer festas de aniversário com bolos, porque não se pode dar nada com açúcar para elas. Algumas cidades proibiram até a abertura de lanchonetes de fast-food em certas áreas para tentar combater o problema da obesidade infantil. Em Los Angeles, criaram as chamadas “zonas de engasgo”, onde você não pode vender certos tipos de comida, porque não são considerados saudáveis. Na Califórnia, há cidades que proibiram até o fumo nas ruas. No Colorado, um juiz chegou a proibir as pessoas de fumar em suas próprias casas. Outras cidades criaram as chamadas “leis de quintal”, por meio das quais o governo determina até qual deve ser o tamanho das casinhas de cachorro e quanta água você tem de deixar na tigela para seu animal de estimação.
ÉPOCA – Por que esse tipo de controle está se disseminando?
Harsanyi – Os políticos têm de fazer alguma coisa. Eu até reconheço que muitas leis que corroem a liberdade são bem-intencionadas. As pessoas querem ajudar alguém ou resolver um problema social. Mas isso gera consequências inesperadas e cria precedentes perigosos para a aprovação de novas leis invasivas. A coisa começa com uma boa ideia, depois vai crescendo e acaba virando algo que causa danos muito maiores. Nada justifica o comprometimento dos direitos individuais e da liberdade. A liberdade é mais importante que o problema.
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