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O peso colossal dos tributos Com as contas públicas no vermelho, é improvável que haja redução de impostos nos próximos anos, mas um projeto em análise na Câmara deverá propor a simplificação e a racionalização do sistema 49

O bancário Gustavo Tavares, de 22 anos, teve de trocar seu celular bem antes do que imaginava. O celular anterior, um iPhone 5S, foi roubado durante um assalto em São Paulo, em setembro, e ele precisou repor com urgência o aparelho, comprado em 2014. Fã dos produtos da Apple, Tavares não teve dúvida. Foi a uma loja da Vivo, a sua operadora, e comprou um modelo mais recente da marca, o iPhone 6, com 64 GB de capacidade de armazenamento de dados. Graças ao plano que contratou, ele conseguiu comprar o celular, cujo preço de tabela era de R$ 3,2 mil, por R$ 2,6 mil. Embora o preço pago pelo aparelho representasse quase a metade de seu salário, de R$ 5,9 mil, Tavares diz que pagou à vista. “Tinha um dinheiro na poupança para cobrir imprevistos”, afirma. “Eu uso aparelhos da Apple desde 2011 e eles atendem bem às minhas necessidades.”

Em comparação com o preço cobrado por um iPhone do mesmo modelo nos Estados Unidos, Tavares pagou caro pelo equipamento, mesmo com o desconto de R$ 600 que recebeu. Hoje, apesar de ser quase impossível encontrar um iPhone 6 de 64GB lá, por falta de estoque e pela oferta de modelos mais recentes, Tavares conseguiria comprar um aparelho desbloqueado na Amazon, a gigante americana do varejo online, para entrega em Nova York, pelo preço final de R$ 1.720 (US$ 505) – R$ 880 a menos (33%) do que ele pagou aqui. Caso tivesse pago o preço de tabela, sem o desconto promocional, a diferença em relação ao preço cobrado nos Estados Unidos chegaria a R$ 1.480 (45%). Se levarmos em conta que o poder de compra dos brasileiros é bem menor que o dos americanos, a diferença, em termos relativos, torna-se ainda mais gritante. Para um americano, o preço de um iPhone 6 vendido nos Estados Unidos representa apenas 12,6% do salário médio mensal, de R$ 13.630 (US$ 4.008) em 2015, de acordo com dados oficiais. Para um brasileiro empregado ou que trabalhe por conta própria, cuja renda média é de cerca de R$ 2 mil por mês, segundo o IBGE, o preço “cheio” do iPhone aqui é equivalente a 130% de seus ganhos.

O caso de Tavares e de seu iPhone não é isolado. Mesmo com o salto do dólar, hoje cotado a R$ 3,4 no câmbio turismo, com uma alta de 42% em três anos, os preços de muitos produtos importados ainda são bem mais atraentes nos Estados Unidos e em outros países. No caso do iPhone e de outros produtos importados, a disparidade de preços aqui e lá fora se deve principalmente à cobrança do imposto de importação. No Brasil, apesar da abertura promovida nos anos 1990, ainda há muita proteção para os produtos fabricados localmente, por meio da sobretaxa dos importados, e quem acaba pagando a conta é o consumidor. Foi isso, aliás, que levou o então presidente e fundador da Apple, Steve Jobs (1955-2011) a recusar um convite feito pelo governo do Rio de Janeiro para instalar a primeira loja oficial da empresa no País, no final da década passada. Mesmo no caso dos produtos fabricados no Brasil, como carros, roupas e eletrodomésticos, os preços costumam ser mais altos do que no exterior. A principal explicação para a carestia nacional: impostos, impostos e mais impostos. Eles oneram a produção, penalizam o consumo e limitam o acesso da população de menor renda ao mercado.

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