A revista Time diz que, “quando ele fala, Washington escuta”. A Fortune o descreve como uma estrela em ascensão, numa reportagem intitulada “The sexiest economists alive” (Os economistas vivos
mais quentes). Convocado diversas vezes pelo Congresso dos Estados Unidos para participar de debates acalorados sobre a situação econômica do país e requisitado pela mídia americana como poucos profissionais da área, Mark Zandi, de 49 anos, tornou-se uma celebridade da atual crise global.
Economista chefe e fundador do site Economy.com, uma empresa de consultoria e previsões econômicas cujo controle foi comprado pela agência de classificação de risco Moody’s por US$ 27 milhões, em 2005, Zandi tem trânsito livre tanto entre políticos de esquerda como entre os conservadores. Embora seja filiado
ao Partido Democrata, do presidente Barack Obama, foi assessor econômico do senador John McCain, do Partido Republicano, durante a campanha presidencial dos Estados Unidos.
Ele consegue explicar temas complexos da economia numa linguagem acessível aos leigos – uma habilidade que falta à maioria de seus pares. Seu livro Financial shock, publicado em 2008, no qual ele faz um diagnóstico da implosão do mercado americano de hipotecas e sugere medidas para evitar a repetição do problema, foi considerado “um guia impressionantemente lúcido para as grandes questões” pelo jornalista e colunista de economia do New York Times, David Leonhardt.
Nesta entrevista a ÉPOCA, Zandi defende os pacotes de estímulo adotados nos EUA e em vários outros países, inclusive no Brasil. Ele afirma que as medidas do governo Obama para combater a crise poderiam ser mais amplas, mas ainda assim deverão trazer resultados positivos. Segundo Zandi, o pior da crise já ficou para trás e a economia mundial, que terá uma retração de cerca de 3% neste ano, a maior desde a Segunda Guerra Mundial, voltará a crescer em 2010. Embora nunca tenha visitado o Brasil, Zandi parece conhecer bem o país. Ele se diz “muito otimista” com o futuro do Brasil e afirma que o país deverá se tornar cada vez mais ativo na definição das políticas econômicas globais.
Época – Poucos economistas previram a atual crise global. Por que os economistas erram tanto?
Mark Zandi – (Gargalhada) Acho que é por uma série de coisas. De forma geral, a maioria das recessões econômicas e crises financeiras ocorre em consequência de um ou dois eventos praticamente imprevisíveis.
São eventos diferentes de tudo o que vimos antes. E é claro que os economistas fazem suas previsões com base na experiência histórica. Na crise atual, o que não foi antecipado pelos economistas foi a série de erros políticos cometidos pelas autoridades americanas em setembro do ano passado. Antes disso, a desaceleração da economia e a crise financeira eram relativamente previsíveis e muita gente antecipou isso de alguma forma. O que não antecipamos foi o pânico financeiro que resultou dos erros ocorridos em
setembro e seu impacto global, com uma desaceleração muito severa da economia.
Época – A que erros o senhor se refere?
Zandi – Em minha visão, o primeiro grande erro foi quando o governo americano interveio na Fannie Mae e na Freddie Mac (empresas de crédito imobiliário dos EUA). As duas instituições estavam insolventes
com base no valor de mercado de seus títulos imobiliários. Mas, sob a ótica regulatória, elas não estavam. Acho que o governo poderia ter evitado a intervenção. Quando ele interveio, assustou os investidores globais. Imediatamente, os elos mais frágeis do sistema financeiro, em especial
o Lehman Brothers (banco americano de investimento que quebrou pouco depois), ficaram sob forte pressão. O segundo erro foi permitir que o Lehman Brothers quebrasse. Na época, não parecia uma decisão irracional, e as autoridades não se deram conta das consequências que isso teria no mercado. A falência do Lehman precipitou o pânico e provocou uma corrida aos bancos. O terceiro erro foi quando o Congresso americano rejeitou o projeto que destinava recursos para o sistema financeiro. Isso gerou
insegurança em relação à saúde do sistema, levou a um crash no mercado de ações e exacerbou o pânico. Afetou também a economia real, pelo impacto que teve na oferta de crédito. Quando o Congresso decidiu aprovar o pacote de ajuda aos bancos, já era tarde demais.
Época – O senhor acredita que o pior já passou?
Zandi – Acho que sim. O sistema financeiro ainda tem muitos problemas para resolver, mas a situação melhorou. As medidas adotadas recentemente pelo governo americano, que serão implementadas ao longo dos
próximos meses, terão um efeito positivo e vão estabilizar o sistema. A recessão nos Estados Unidos e em boa parte do mundo vai continuar em 2009 e em boa parte de 2010. Mas o pior da queda, que ocorreu
no último trimestre de 2008 e no primeiro trimestre de 2009, ficou para trás. Em 2010, o PIB (Produto Interno Bruto) mundial, que deverá cair quase 3% em 2009, vai crescer por volta de 1,5%.
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