O americano Gary Cohn, presidente mundial do Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimentos do mundo, é um otimista em meio a uma onda de pessimismo. Cohn diz que, apesar das turbulências na Europa, a crise internacional pode estar ficando para trás. “À medida que o mundo for melhorando e a economia for se fortalecendo, a confiança dos consumidores e das empresas aumentará”, afirmou em entrevista a ÉPOCA. “Isso ajudará todo mundo a deixar a crise para trás e a começar a falar sobre a expansão da economia global.” Segundo ele, a deterioração da imagem do Brasil lá fora é um fenômeno passageiro. “Isso vai e vem. Acontece em qualquer lugar”, diz. “O Brasil passará por ciclos em que todo mundo vai querer colocar dinheiro aqui e por ciclos em que todo mundo vai querer tirar dinheiro daqui. No momento, o Brasil passa por um ciclo relativamente neutro, com viés positivo.”
ÉPOCA – Cinco anos depois do início da crise global, como o senhor vê a economia mundial?
Gary Cohn – A economia global, de forma geral, está melhorando, mas a retomada é um processo lento. As maiores dificuldades no momento estão na Europa. É só lembrar o que aconteceu na Grécia um ano atrás e em Chipre há algumas semanas. Há um ano, ninguém poderia imaginar que seria possível haver um confisco sobre depósitos bancários na Zona do Euro. Hoje, a Europa tem um nível recorde de desemprego. Há problemas em relação ao crescimento econômico, ao capital dos bancos, à regulação do sistema bancário. Agora, em outras partes do mundo, o desemprego começa a diminuir. Muitos países dão sinais reais de mudança, um pouco mais de gastos de capital, de investimento.
“Todo mundo se preocupa com seus índices de beleza. Oh, estou bonito agora? As pessoas querem investir em meu país?”
ÉPOCA – Onde a retomada da economia está mais avançada?
Cohn – Há vários estágios de mudança, em diferentes regiões. Os Estados Unidos estão relativamente bem. A economia americana mostra sinais de crescimento. A China cresce de novo. O Japão está se tornando bem mais ativo na esfera global. No Sudeste Asiático, países como Malásia, Indonésia, Taiwan e Cingapura continuam a dar sinais reais de crescimento.
ÉPOCA – Como está o Brasil neste cenário?
Cohn – 2012 foi um ano mais duro para o Brasil, com um crescimento abaixo de 1%. O consumo tem sido muito forte, mas o investimento tem sido baixo, menor do que poderia ser num país emergente como o Brasil. O Brasil tem de se perguntar o que pode estimular o investimento. Há uma grande necessidade de investimentos em infraestrutura. É um setor que demanda mais de US$ 1 trilhão. Os investidores querem se envolver, mas têm de obter uma boa taxa de retorno. Hoje, há muito mais competição por recursos para infraestrutura do que há 15 ou 20 anos. Quando aplica capital num projeto de infraestrutura de longo prazo, com uma taxa de retorno quase fixa, você tem de avaliar esse retorno e descontar o risco, o fator geopolítico, as questões cambiais. Não é uma fórmula simples. Mesmo assim, estamos otimistas com o Brasil.
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