O economista Gustavo Franco teve uma trajetória profissional polivalente. Ele conseguiu combinar uma carreira bem-sucedida na academia com uma rica experiência no governo e na iniciativa privada. Foi professor da PUC do Rio de Janeiro, presidente do Banco Central no governo FHC e hoje é sócio da Rio Bravo, uma pequena butique de investimentos. Conhece como poucos, portanto, os meandros da profissão, tema de seu novo livro – Cartas a um jovem economista (Editora Campus, 208 páginas, R$ 39,90), a ser lançado no dia 14, em São Paulo. Nesta entrevista, ele fala sobre as grandes questões econômicas, as patrulhas ideológicas existentes na universidade e os desafios do próximo presidente da República. “O marxismo hoje é medicina alternativa”, diz.
ÉPOCA – Em seu novo livro, o senhor diz que a economia é um assunto complexo e que, muita vezes, os economistas a complicam ainda mais. Por quê?
Gustavo Franco – O problema é a comunicação. Primeiro, porque você precisa do vocabulário próprio do saber especializado. É como os médicos. Eles têm um idioma próprio que permite concentrar muita substância em poucas palavras. Segundo, porque é um assunto realmente difícil. E muitos profissionais têm o pudor de não usar analogias do tipo “o país é como se fosse uma família, que tem um orçamento doméstico”. Isso não tem nada a ver. O pudor em usar a simplificação em excesso faz o profissional ser cuidadoso na forma de se expressar – e acho que isso é correto. Agora, é curioso que as pessoas admitam isso do médico, do dentista, mas não do economista, porque é um assunto que todo mundo acha que entende.
ÉPOCA – Em um aspecto as pessoas são tolerantes com os economistas, mas não admitem nos médicos: os erros. Por que os economistas erram tanto?
Franco – Os médicos também erram muito. O tipo de realidade com a qual o economista lida é diferente. Compare, por exemplo, um economista com um físico que quer fazer a previsão do tempo. Ele não é nem capaz de dizer se amanhã vai chover. Não é que as leis da física não funcionem. É que os sistemas que ele examina, com os instrumentos de computação e tecnologia de que dispõe, não lhe permitem previsões. Na economia, é a mesma coisa. A gente erra igualzinho a qualquer outro profissional que se empenhe em prever o futuro.
“Os economistas erram como qualquer outro profissional.
Um físico não consegue nem dizer se vai chover amanhã”
ÉPOCA – O senhor diz que, se pudesse escolher um lema para a profissão, escolheria “Não há almoço grátis”, de Milton Friedman. O que há de tão importante nisso?
Franco – Ele combina uma tonalidade mundana com algo com o qual cada um de nós está envolvido o tempo todo. Em nosso cotidiano, há dez situações que acontecem durante o dia em que você pode verificar que não há almoço grátis. Tem de fazer escolhas. Tem de escolher entre ficar com o dinheiro e comprar alguma coisa, entre comprar uma bicicleta ou um casaco. São situações em que você não pode escolher as duas coisas. Senão, seria moleza, não teria graça.
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