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“O ‘mãos de tesoura’ virou coletor de impostos” Para o economista Paulo Guedes, o agravamento da recessão e a independência do Poder Judiciário levarão o governo a cortar os gastos públicos com Dilma ou sem Dilma

O economista Paulo Guedes é um crítico implacável da mentalidade social-democrata que domina a política e a economia do país desde a redemocratização, em meados dos anos 1980. Ph.D. pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, o templo do liberalismo global, Guedes é um dos fundadores do Banco Pactual, hoje BTG Pactual, o maior banco de investimento brasileiro, e do Ibmec – a primeira escola de negócios a oferecer cursos de MBA Executivo, de menor duração. Hoje, aos 66 anos, é sócio e presidente do conselho de administração da Bozano Investimentos, da qual o empresário Júlio Bozano detém 20%. Nesta entrevista a ÉPOCA, Guedes diz que o agravamento da crise econômica e política oferecerá uma nova oportunidade de o país realizar um ataque frontal aos gastos públicos. Segundo ele, o plano lançado recentemente pelo PMDB poderá ser adotado pelo governo e ajudar o país a sair da crise.

ÉPOCA – Hoje, o senhor e outros economistas estão falando mais de política que de economia. O que está acontecendo?
Paulo Guedes – Quando os economistas tiveram a possibilidade de fazer a diferença, eles não resolveram. Não aproveitaram as oportunidades que surgiram desde a redemocratização – nos planos Cruzado, Bresser, Verão, Collor e até no Real – para realizar uma grande transformação na economia brasileira. Não atacaram estruturalmente o excesso de gastos públicos, promovendo a reforma da Previdência, a flexibilização da legislação trabalhista, o corte de impostos e a descentralização de recursos para Estados e municípios. O PT só agudizou o problema. Em 30 anos, a social-democracia, hegemônica, dominante politicamente desde meados dos anos 1980, não conseguiu fazer o que tinha de ser feito. A esquerda não tem coragem de enfrentar corretamente, tecnicamente, o problema. O que eles sabem fazer? Aumentar gastos até serem chamados à realidade. Quando os militares assumiram o poder, o Brasil era o país que mais havia crescido no mundo em 75 anos – 7,4%, em média, ao ano. Em seguida, vinha o Japão, com crescimento de 7,3% ao ano, de 1900 a 1975. Naquela época, 18% do PIB estava na mão do Estado. Quando os militares saíram, eram 25%. Com o Sarney, essa fatia subiu mais alguns pontos, para uns 27% ou 28%. Com o Fernando Henrique, foi para 32%. Hoje, o Estado abocanha quase 40% do PIB, se incluirmos na conta os juros de rolagem da dívida pública, que devem chegar a quase R$ 500 bilhões, o equivalente a dez Bolsas Famílias, em 2015. Só que agora o comando da operação é político. A vanguarda não está mais com os economistas. O (Joaquim) Levy (ministro da Fazenda) tem todas as qualificações necessárias para o cargo, mas é irrelevante. Há uma configuração maior em jogo.

ÉPOCA – Que configuração é essa?
Guedes – De um lado, há o despertar do Poder Judiciário. Pela primeira vez desde a redemocratização, ele está deixando de ser cúmplice do establishment. Começou com o Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, e segue agora com o Sergio Moro e os jovens que estão fazendo a Lava Jato. De outro, há o aprofundamento da recessão, mostrando que o modelo está errado e que o governo vai ter de atacar os gastos públicos, que estão subindo há 35 ou 40 anos de forma ininterrupta, independentemente de quem está no poder. Dilma está vivendo de golfadas. Por si só, está condenada à “sarneyzação”, com a cooptação da classe política, que é o que PT e o Lula querem, ou à “collorização”, que é o que a oposição quer, dando um impeachment nela. Ou o establishment ganha, dá meia dúzia de impostos para ela sobreviver e esfria o Judiciário, para não haver o impeachment, ou a oposição ganha, encontra um fato relevante que justifique o impeachment, e a Dilma sai.

ÉPOCA – Como fica o ministro Joaquim Levy?
Guedes – Nesse contexto, o Levy é um tampão. Ele está virando um feijão com arroz, como foi o Maílson da Nóbrega (ex-ministro da Fazenda), no fim dos anos 1980, que gerenciava a massa falida, cumprindo a tabela e rezando para o governo acabar logo. O Levy serviu só para dar uma trégua, um respiro para a Dilma. Hoje, é mantido lá em troca de seu próprio escalpo. O “mãos de tesoura”, que era o homem que ia cortar gastos, virou um coletor de impostos. Responsabilidade fiscal não quer dizer que você pode aumentar imposto – e nessa o Levy acabou entrando. Com a maior facilidade, propôs a reoneração da folha de pagamentos. Isso é uma bomba atômica, uma arma de destruição em massa de empregos. Como a Dilma não o apoiou e ele não conseguiu implementar nada por ter sido apanhado no conflito político, está sendo desmoralizado. É patético. Ele tinha de ir embora.

Leia a entrevista completa de Paulo Guedes publicada na revista Época

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