Não dá para negar o óbvio. As manifestações de domingo a favor do impeachment de Dilma tiveram realmente menos participantes do que os demais protestos realizados ao longo do ano. Na Av. Paulista, em São Paulo, na Av. Atlântica, no Rio de Janeiro, na Praça da Independência, em Belo Horizonte, ou em qualquer outro local em que os manifestantes tenham se reunido para pedir a cabeça de Dilma, era possível constatar isso a olho nu.
Não importa se, em São Paulo, havia 30 mil pessoas na Paulista, segundo a estimativa feita pela Polícia Militar, ou 40 mil pessoas, de acordo com os cálculos do Datafolha. Tampouco faz diferença se os protestos reuniram em todo o Brasil um total de 90 mil pessoas, segundo as estimativas da PM, ou 410 mil, de acordo com os cálculos dos organizadores. Qualquer que seja a fonte da informação é incontestável que menos gente foi às ruas agora do que nos protestos anteriores.
A questão principal, porém, é entender por que isso aconteceu. Embora boa parte dos analistas tenha interpretado a queda do número de participantes como um sinal de enfraquecimento do movimento em defesa do impeachment, Dilma, o PT e seus aliados nada têm a comemorar. Apesar de as milícias petistas terem se jactado nas redes sociais com um hipotético “fracasso” das manifestações, 90 mil ou 410 mil manifestantes, dependendo da fonte, é muita gente, muita gente, mesmo, nas ruas.
Leia o texto publicado no site da revista Época/a>
Poucas vezes na história se viu no Brasil um movimento que levou tanta gente às ruas para defender o impeachment de um presidente da República ou qualquer outra causa digna. Em geral, nem os sindicatos e as centrais sindicais chapas-brancas conseguem organizar um protesto nacional deste porte, mesmo fornecendo sanduíche de mortadela, camiseta e transporte de graça para os participantes, como costumam fazer.
Num arroubo de criatividade, alguns analistas chegaram a dizer que o interesse pelos protestos diminuiu porque a aceitação do processo de impeachment foi feita pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que está na corda bamba. Considerando que quase 70% da população apoiam o impeachment de Dilma, segundo o Datafolha, é difícil imaginar que alguém tenha deixado de ir às manifestações só porque foi Cunha quem deu seu aval ao processo.
Em São Paulo, por exemplo, a votação em Aécio quase chegou também aos mesmos 70% nas eleições presidenciais de 2014 – e não consta que a rejeição ao PT, a Lula e a Dilma na capital paulista tenha sofrido alteração significativa de lá para cá. Ao contrário. Com a “contribuição milionária” do prefeito Fernando Haddad, com suas barbaridades administrativas, oantipetismo na cidade de São Paulo só fez aumentar neste período. Não dá para acreditar que, nesse contexto, o apoio ao impeachment simplesmente tenha desaparecido de uma hora para outra.
O que aconteceu é que vários fatores, que nada tem a ver com a perda de apoio ao movimento, acabaram influenciando negativamente a ida das pessoas às ruas no domingo. Como dizem os organizadores dos protestos, houve pouquíssimo tempo – pouco mais de uma semana – para convocar as manifestações. É natural que, às vésperas do Natal, muitos tenham deixado para fazer compras com a família no domingo, já com o 13º salário na mão.
Muita gente também costuma marcar viagens e outros compromissos no fim de semana com antecedência e não pode mudá-los na última hora, em especial quando muitas escolas já estão em férias. Isso sem falar nas tradicionais reuniões de amigos realizadas nesta época do ano e na divulgação restrita na mídia. Pouco se falou das manifestações nos dias que as antecederam, sabe-se lá por quê.
Somando tudo, o que se pode dizer é que o resultado dos atos de domingo em defesa do impeachment foi uma tremenda vitória, que comprova a força do movimento, mesmo diante de condições adversas. Se Dilma, o PT e sua tropa de choque acreditarem que o movimento pró-impeachment perdeu força só porque tinha menos gente nas ruas no domingo, vão se dar mal. É o que poderemos observar no dia 13 de março, quando serão realizadas novas manifestações contra Dilma, provavelmente na véspera da votação na Câmara. Aí, vamos ver o que dirão os analistas que agora se apressaram em ver uma suposta queda no apoio popular à saída de Dilma do governo.
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