O economista Alexandre Schwartsman, de 51 anos, sabe bem o que significa ser demitido por fazer críticas à política econômica do governo. Em 2011, Schwartsman, na época economista-chefe do Santander, recebeu o bilhete azul depois de protagonizar um bate-boca em público com o então presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Ex-diretor da área externa do Banco Central no governo Lula, Schwartsman hoje é consultor econômico e professor do Insper, em São Paulo. Nesta entrevista, ele fala sobre a demissão da analista do Santander que relacionou o sobe e desce de Dilma nas pesquisas ao desempenho do mercado e sobre o pessimismo dos empresários com os rumos da economia.
ÉPOCA – Na semana passada, uma analista do banco Santander foi demitida por ter dito, num e-mail enviado a clientes, que uma subida da presidente Dilma nas pesquisas eleitorais teria um impacto negativo no mercado financeiro. O que o senhor pensa disso?
Alexandre Schwartsman – O episódio todo foi lamentável. O e-mail não tinha nada de controverso. As pesquisas que mostram o avanço da oposição – uma probabilidade, ainda que remota hoje, de que a oposição vença as eleições – têm um reflexo positivo sobre as ações, o câmbio, as taxas de juros. Há uma percepção no mercado de que uma mudança na política econômica será benéfica para o país como um todo, mas especialmente para as empresas estatais, como Petrobras e Eletrobras, que têm grande influência no desempenho da Bolsa. A Petrobras perdeu muito de seu valor nos últimos anos, por causa de uma política de preços equivocada. A Eletrobras também. A gestão tem sido ruim para os acionistas. Não é preciso ser um gênio das finanças para perceber que, quando você vende algo por menos do que pagou, perderá dinheiro. Obviamente, as pessoas pensam que a manutenção desse tipo de política será ruim para essas empresas.
ÉPOCA – Essa analista do Santander não exagerou? Sua análise não expressava uma visão política pessoal?
Schwartsman – O que ela fez foi só repassar aos clientes uma informação já conhecida no mercado. Cabe aos bancos zelar pelo patrimônio dos clientes. Eles têm o dever fiduciário de fazer isso. Quando você deixa seu dinheiro lá, imagina que o banco, além de tomar conta dele, também lhe dará informações relevantes para a gestão de seu patrimônio. Nem todo mundo acompanha o dia a dia do mercado. Essa informação pode afetar a decisão de investimento de muitos clientes.
ÉPOCA – O que o senhor achou da reação do governo e do PT?
Schwartsman – O governo reagiu de forma muito dura. Você pode até reclamar, dizer que não gostou. Mas a reação foi totalmente desproporcional. Não acho que um presidente, um primeiro-ministro, um líder de uma nação tenha de ser eleito para satisfazer ao mercado. Ele tem de ser eleito para implementar o programa que defende. Muitas vezes, seu programa terá consequências sobre a economia e o preço dos ativos. Em alguns casos, a economia crescerá menos, noutros, mais. A inflação também poderá ser mais alta ou mais baixa. Muita gente pensa nos bancos como uma organização maquiavélica, acredita que eles manipulam o mercado, mas essa agenda maquiavélica não existe. Não tem alguém dizendo “olha, vamos fazer esse tipo de coisa para manipular o mercado” – muito menos para manipular o resultado das eleições.
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