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O Frankenstein de Dilma e a volta da confiança perdida Depois de tantas intervenções na produção e no consumo, é difícil imaginar que tudo mudou e que agora o governo é a favor do mercado

O dramaturgo irlandês Bernard Shaw (1856-1950), um dos fundadores da London School of Economics, uma das mais respeitadas faculdades de economia do mundo, era cético em relação à capacidade de os economistas construírem um consenso em torno de qualquer questão. “Se todos os economistas fossem colocados lado a lado, nunca chegariam a uma conclusão”, afirmava Shaw.

Se vivesse no Brasil de hoje, Shaw provavelmente ficaria surpreso com o grau de concordância existente entre os economistas ao explicarem o desempenho pífio da economia nacional nos últimos tempos. Dez entre dez economistas, do chapa branca Delfim Netto, guru da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao financista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central na gestão de FHC, praticamente todos concordam que o grande problema do governo é a falta de credibilidade e de confiança dos empresários e dos consumidores nos rumos da economia e na gestão das políticas econômica e monetária.

A percepção dos economistas tem fundamento na frieza dos números. A pesquisa mais recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada na segunda-feira, 26, mostra uma queda do Índice de Confiança da Indústria (ICI) para o menor nível desde julho de 2009, no auge da crise financeira global, no segundo mandato de Lula. No caso dos consumidores, a situação não é diferente, segundo o índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec), divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Em Brasília, Dilma e os ministros da área econômica podem ter dificuldade para entender as estatísticas. Afinal, na visão deles, o governo fez tudo o que estava ao seu alcance para estimular o investimento e o consumo no país. Do lado do investimento, sobretaxou os importados, ampliou o protecionismo, promoveu desonerações tributárias seletivas, reduziu as taxas de juro, cortou as tarifas de energia elétrica e estimulou a desvalorização do real. Do lado do consumo, além da redução dos juros, manteve as medidas de estímulo à compra de veículos, produtos da linha branca, como fogões e geladeiras, e material de construção. Ao mesmo tempo, represou preços públicos, como os combustíveis, para tentar conter a inflação e evitar a alta dos juros, às custas da Petrobras, que tem ações cotadas na Bolsa de Valores e milhões de pequenos investidores do país e do exterior.

O que acabou acontecendo, porém, foi exatamente o contrário do que o governo esperava. Ao intervir tanto na economia, imaginando poder controlá-la como um boneco de marionete, o governo acabou criando uma espécie de Frankenstein econômico, que gerou insegurança entre os empresários sobre quais são efetivamente as regras do jogo. O governo quebrou contratos, como no caso do setor de energia, e passou a mensagem de que, para obter vantagens, era preciso retomar a velha peregrinação a Brasília que predominava nos tempos em que Delfim Netto era chamado de “o czar” da economia e tudo se decidia em seu gabinete, no Ministério da Fazenda. Finalmente, o governo acabou reforçando a percepção de que o combate à inflação era algo secundário em relação ao crescimento da economia. Com isso, contribuiu para deteriorar ainda mais as expectativas dos agentes econômicos.

Agora, depois de tantas trapalhadas, o governo e o PT, capitaneados por Lula, parecem envolvidos numa cruzada para tentar recuperar a credibilidade e a confiança de empresários e consumidores. Mas, ao contrário do que eles imaginam, credibilidade não se compra, mas se conquista, lenta e gradualmente, com pequenas iniciativas e ações tomadas ao longo do tempo. O estrago está feito. Ninguém (re)conquista a confiança de quem quer que seja da noite para o dia. É como um marido traído pela mulher que, por uma razão qualquer, resolve manter a relação, mesmo depois de tomar conhecimento da traição. Ainda que a mulher faça de tudo para recuperar a confiança do marido e para demonstrar que jamais o trairá novamente, é possível – e até provável – que a relação entre os dois nunca mais volte a ser a mesma. É como um cristal que se quebrou. Ninguém – absolutamente ninguém – muda de uma hora para outra. Depois de agir como um pitbull nos 30 primeiros meses de seu governo, é difícil acreditar que Dilma agora se transformou ou irá se transformar num labradorzinho, do qual todos gostam e no qual todos confiam.