estadios4

O estatismo do Corinthians e o privatismo do Palmeiras Ao contrário do Itaquerão, que deixou uma dívida monumental com bancos oficiais, o Allianz Parque foi construído pela iniciativa privada sem qualquer ônus para o clube

Não é só nas grandes questões políticas e econômicas do país que se dá o embate entre o Estado e a iniciativa privada. Até no futebol, ele acontece – e, como em qualquer outra área, o capital privado sempre leva vantagem em relação ao estatismo.

Dois estádios construídos recentemente em São Paulo – a Arena Corinthians, inaugurada pouco antes da Copa do Mundo, e o Allianz Parque, do Palmeiras, cuja inauguração está marcada para a próxima quarta-feira – ilustram com perfeição esse confronto. Os dois estádios representam duas filosofias, duas visões de mundo e dois modelos de negócios diametralmente opostos. Eles simbolizam, em boa medida, a discussão sobre o tipo de Brasil que queremos construir.

Confira o texto publicado originalmente no site da revista Época

O Itaquerão, como se tornou conhecido o estádio do Corinthians, é fruto das benesses oficiais, patrocinadas pelo ex-presidente Lula, corintiano declarado, para o amigo e petista Andrés Sanchez, ex-presidente do clube e eleito deputado federal pelo PT no pleito deste ano. Segundo dados apresentados pelo repórter Diego Iwata Lima, da Folha de S.Paulo, o Itaquerão, com capacidade para 48 mil espectadores, custou R$ 1,150 bilhão – um custo médio de R$ 24 mil por pessoa. Sua construção gerou uma dívida monumental, que deverá ser quitada em 13,5 anos (160 meses), a partir de junho de 2015, e afetará de forma dramática as finanças do clube. Foram nada menos que R$ 820 milhões em dinheiro público, dos quais R$ 400 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o restante em incentivos fiscais da prefeitura de São Paulo.

Não por acaso, o Itaqueirão já é considerado uma “herança maldita” deixada por Sanchez para a atual e a próxima geração de corintianos. Se o dito Timão não conseguir pagar o “papagaio”, a conta ficará para todos nós, corintianos ou não, já que a Caixa, instituição financeira federal, deverá ficar com o “mico”, de acordo com o contrato do financiamento oficial.

O estádio do Palmeiras, ao contrário do corintiano, é resultado da força da iniciativa privada, sem um centavo de dinheiro público. Com capacidade para 43,6 mil espectadores, custou R$ 660 milhões – uma média de R$ 15,1 mil por lugar, 37% a menos que o valor do Itaquerão – e não deixará qualquer ônus para o clube. Em troca, a construtora W.Torre, responsável pela obra, terá o direito de explorar o estádio por 30 anos. Também ao contrário do Corinthians, que está guardando a receita de seus jogos para começar a pagar a dívida no ano que vem, o Allianz Parque vai reforçar o caixa do Palmeiras e começará a gerar renda imediatamente. O clube nada pagará pela manutenção e ainda ganhará percentuais de todas as receitas do estádio, como a venda de alimentos, sem contar a bilheteria de seus jogos.

Apesar de toda a incompetência demonstrada pelos dirigentes do Palmeiras no futebol, sou obrigado a reconhecer que, neste caso, eles deram um banho no rival. Como não sou nem palmeirense e nem corintiano, estou a cavaleiro para falar. Se pudesse escolher, esse seria o modelo que gostaria de ver aplicado no meu São Paulo, para modernizar o Morumbi ou até para erguer outro estádio em seu lugar, como fez o Palmeiras. Para mim, o modelo de negócios do Allianz Parque deveria ser um benchmark nacional.

Siga o blog pelo Twitter em @josefucs