O bordão “rouba, mas faz”, adotado pelos apoiadores do ex-governador de São Paulo Ademar de Barros (1901-1969) para defendê-lo de acusações de corrupção, tornou-se um símbolo de uma forma de governar que fez escola no País. Recentemente, nos governos do PT, a ideia dos seguidores de Ademar de que, independentemente da corrupção, o mais importante é ser um bom tocador de obras, sofreu uma ligeira adaptação. Com a descoberta do mensalão, em meados da década passada, e de maneira mais enfática agora, com o petrolão, um contingente expressivo de militantes e simpatizantes do PT fechou os olhos para as acusações de corrupção sofridas pelo partido e continuou a apoiá-lo, com o argumento de que o principal é o que ele faz pelos mais pobres. Numa adaptação livre do velho bordão de Ademar, é como se dissessem que o PT “rouba, mas distribui”. Ou, então, que “rouba, mas faz obra social”. À primeira vista, pode parecer que a adaptação é diferente da expressão original, criada há 70 anos, mas não é. Na essência, são duas maneiras semelhantes de tentar justificar o mesmo fenômeno, que contamina o País e afeta a vida dos cidadãos e das empresas – a pilhagem de dinheiro público. Hoje, porém, diante dos escândalos bilionários que pipocam a cada dia por aí, os desfalques atribuídos a Ademar provavelmente seriam considerados uma gorjeta para o cafezinho.
Segundo cálculos da Polícia Federal, só o propinoduto montado na Petrobrás, envolvendo PMDB e PP, além do PT, deixou um prejuízo de R$ 42,8 bilhões, 40% a mais do que o custo total do Bolsa Família em 2016. Mais conservador, o Ministério Público calcula que o buraco tenha ficado em torno de R$ 20 bilhões, ainda assim bem acima das estimativas oficiais da empresa, divulgadas ainda no governo Dilma Rousseff, de “apenas” R$ 6 bilhões. No total, de acordo com um estudo realizado em 2010 pela Fiesp, a entidade que reúne os industriais paulistas, as perdas geradas por corrupção no País alcançam entre 1,38% (R$ 80 bilhões) e 2,3% (R$ 140 bilhões) do Produto Interno Bruto (PIB). Para efeito de comparação, a previsão do governo para 2017 é de um gasto de R$ 62,5 bilhões em educação e de R$ 110,2 bilhões em saúde.
“Os valores são estratosféricos. Às vezes (durante os depoimentos), eu repetia a pergunta para saber se estava entendendo bem, para saber se eram bilhões ou milhões”, afirmou recentemente o ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Benjamim é o relator do processo que pode levar à cassação do presidente Michel Temer, como vice na chapa de Dilma, por causa do uso de recursos do petrolão na campanha de 2014, entre outras irregularidades sob investigação. “Nós, seres humanos normais, não temos condição de avaliar o que se pode comprar com aquilo.”
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