O brasileiro Carlos Ghosn está no centro de uma das maiores transformações da indústria automobilística em todos os tempos. Como presidente mundial da Renault-Nissan, o quarto maior grupo automotivo global (6,1 milhões de veículos vendidos em 2009), ele comanda projetos que ajudarão a mudar o setor neste século. Entre eles, destaca-se a produção de carros elétricos, prevista para o ano que vem nos Estados Unidos e no Japão, e de novos modelos populares, para atender à crescente demanda de mercados emergentes. No início de abril, Ghosn (fala-se Gón em francês) surpreendeu o mercado ao anunciar uma parceria com a Daimler-Benz, a fabricante do Mercedes, para compartilhar linhas de montagem, produzir carros populares e desenvolver tecnologia para carros elétricos, motores e vans. Segundo ele, é a única forma de reduzir custos e realizar os investimentos necessários para lançar modelos a preços mais acessíveis.
Sua trajetória fez dele um dos executivos mais influentes e respeitados do mundo. No início da década, como presidente da japonesa Nissan, Ghosn ganhou status de celebridade no Japão ao revigorar a montadora, então com dívidas de US$ 20 bilhões. Implacável na gestão dos custos, ele renegociou contratos com fornecedores e demitiu 21 mil trabalhadores, o que lhe rendeu o apelido de Le Cost Killer (o matador de custos). Virou tema de livros e teses acadêmicas. Tornou-se até personagem de mangá. Seu sucesso o credenciou a acumular, em 2005, o comando da francesa Renault, associada à Nissan desde 1999.
Na semana passada, Ghosn esteve no Brasil para abrir o Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, anunciar uma parceria com a prefeitura de São Paulo, para avaliar os investimentos necessários para o uso de carros elétricos na cidade, e participar do lançamento do novo Logan, da Renault, em Salvador. Nossa conversa ocorreu num hotel da capital gaúcha. Com seu jeito afável e um forte sotaque francês, Ghosn falou sobre os carros verdes, o futuro da indústria e os planos da Renault-Nissan para o Brasil.
ÉPOCA – Durante a crise, uma explosão de vendas de carros em países emergentes reduziu os prejuízos da indústria. Essa mudança é temporária ou veio para ficar?
Carlos Ghosn – Não é temporária. Apareceu de um jeito muito nítido durante a crise – as vendas nos países desenvolvidos caíram muito e os países emergentes se saíram muito bem. Mas, antes da crise, as vendas nos mercados emergentes já cresciam muito mais.
”O uso do flex e do etanol será limitado em nível mundial”
ÉPOCA – Como os emergentes deverão moldar os planos das montadoras?
Ghosn – Vai mudar muita coisa. Haverá mais lançamentos e mais fábricas nos países emergentes. Haverá também mais produtos concebidos com engenharia e design adaptados a eles, porque somos homens de negócios, somos pragmáticos. Vamos seguir o mercado. Recentemente, fui para Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) para lançar o Patrol, um carro importante da Nissan. Fizemos o lançamento lá porque o principal mercado desse carro são os países árabes. Antes, ele era lançado no Japão.
ÉPOCA – Isso significa que teremos lançamentos de carros mais baratos, como o Nano, desenvolvido pela Tata, da Índia?
Ghosn – Você vai ter carros muito baratos, de US$ 3 mil ou US$ 4 mil. É um jeito de atrair as pessoas que hoje dirigem uma motocicleta ou um triciclo. É uma forma também de estimular quem tem carro usado a comprar um novo. O Nano não será um fenômeno limitado. Haverá concorrência.
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