Até o agravamento da crise que atingiu Wall Street, em setembro de 2008, com a quebra do banco de investimento Lehman Brothers, a economista britânica Noreena Hertz era uma celebridade improvável no mundo das finanças. Suas ideias, contrárias ao capitalismo de livre mercado, pareciam condenadas a ficar restritas às discussões acadêmicas. Com a ampliação da crise, elas ganharam ares de profecia. Noreena passou a ser vista como uma visionária, que previu o impacto devastador que o excesso de endividamento dos cidadãos nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos teria na economia global. De economista marginalizada pelo establishment, cujo perfil era publicado por veículos como a revista Socialismo Hoje, ligada ao Partido Socialista Inglês, Noreena se tornou uma profissional reconhecida e respeitada por autoridades, banqueiros e executivos. Transformou-se em uma espécie de porta-voz da nova era que, em sua visão, substituirá o sistema destruído pela crise. De acordo com Noreena, sobre os escombros do antigo regime surgirá um novo tipo de capitalismo – mais solidário, mais cooperativo e mais colaborativo.
Hoje, ela presta consultoria a grandes empresas como o banco ING, da Holanda, e é convidada a falar para líderes empresariais em redutos da velha escola do capitalismo, como a Associação Europeia para uma Política Econômica Evolucionista e o CFA Institute, organização internacional dedicada à formação de consultores de investimento. “Quando falo com as empresas – e sou consultora de algumas das maiores empresas do mundo –, eu reconheço que elas estão trabalhando num paradigma em que a maximização do lucro é, em muitos casos, obrigatória”, afirmou Noreena a ÉPOCA, na semana passada. “Mas as empresas têm de mudar quando a sociedade muda, quando os governos mudam, quando as demandas em relação às empresas mudam.”
ÉPOCA – Recentemente, a senhora escreveu um artigo no qual dizia que a atual crise financeira marcou o fim da era do “capitalismo Gucci”. O que quis dizer com isso?
Noreena Hertz – Eu me referia ao tipo de capitalismo que ganhou força a partir dos anos 1980, capitaneado por Ronald Reagan (então presidente dos EUA) e Margaret Thatcher (ex-primeira-ministra da Inglaterra) e promovido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial em todo o mundo. Estava me referindo a essa forma de capitalismo que confiava cegamente nos mercados, que valorizava apenas o crescimento do PIB e acreditava que a competição e a destruição criadora eram as únicas formas de promover a inovação. Esse tipo de capitalismo chegou ao fim.
ÉPOCA – Por que a senhora decidiu batizar esse sistema de “capitalismo Gucci”?
Noreena – Para simbolizar uma era em que se tornou mais importante ter uma bolsa da Gucci ou um tênis da Nike do que evitar o endividamento pessoal exagerado. O status era medido pelos produtos de luxo que cada um podia comprar. Isso era tido como um sinal de sucesso.
Leia a entrevista completa de Noreena Hertz publicada na revista Época
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