Professor de Política Econômica na Universidade Colúmbia, em Nova York, desde 1982, Phelps diz que estava dormindo quando recebeu a notícia de que ganhara o Nobel. Com sono, esqueceu-se de perguntar por quê. Ele achou que era por seu trabalho sobre crescimento econômico. Passou uma hora falando sobre o tema numa entrevista coletiva para jornalistas por teleconferência. Só depois o economista Joseph Stiglitz, seu colega em Colúmbia, avisou Phelps de que ele tinha ganho o prêmio por seu trabalho sobre inflação e desemprego, de 1969. Nele, Phelps contestou a idéia então disseminada de que mais inflação gera mais emprego. Ele diz que sua vida mudou de forma dramática desde que ganhou o Nobel. “Fui professor a vida toda. Não me importaria de ganhar algum dinheiro só para variar.”
ÉPOCA – O senhor costuma comparar o corporativismo europeu e o capitalismo americano. Pode explicar isso melhor?
Edmund Phelps – Há três aspectos na questão do corporativismo. Um deles é que o pequeno empreendedor – a pequena burguesia – é pouco inovador. No corporativismo, as pessoas preferem que o governo toque grandes projetos e decida aonde deseja levar a economia. Chamo isso de “cientificismo”. É a noção de que o governo sabe mais e pode implementar a ciência e o entendimento econômico para ter um resultado melhor que um sistema totalmente descentralizado, o capitalismo. O segundo aspecto é o que chamo de “solidarismo”. É a crença de que o governo nada deve fazer sem conseguir um entendimento com toda a sociedade. Ou que as empresas nada devem fazer sem conseguir a concordância dos acionistas. Resultado: nada acontece. É muito difícil fazer algo andar assim. Há uma preocupação exagerada com o consenso e pouca oportunidade para fazer acontecer, produzir coisas novas, seguir novos caminhos. Na Europa, há gente que pensa que não há razão para se tornar inovador, porque tudo vai bem.
ÉPOCA – E qual é o terceiro aspecto?
Phelps – É o que chamo de “antimaterialismo”. É a falta de ambição, a repulsa ao lucro, a oposição ao desenvolvimento dos negócios. É a idéia de que as pessoas devem viver integradas na comunidade, que não devemos tentar ir melhor que a comunidade. Uma empresa deve ser lucrativa apenas o suficiente para sobreviver. Não deve tentar ir muito além disso. Não deve implementar inovações que, se forem bem-sucedidas, poderão multiplicar o lucro atual por duas ou três vezes. Isso é ruim. E, se o lucro crescer, os sindicatos deverão absorver esse aumento. Então, qual é o retorno que uma empresa tem em implementar inovações? Se ela fizer isso, vai se tornar um símbolo de ganância. Por isso, os empresários têm receio de alcançar o sucesso. Se você estiver pensando em montar um negócio, que estímulo terá num ambiente desses?
Como você pode ter prazer de viver, se não está satisfeito com seu trabalho, que é algo que faz durante dez horas do dia?
ÉPOCA – Qual é o efeito dessa mentalidade na economia?
Phelps – Se você não estimular a inovação, não vai gerar os empregos que seriam criados em empresas que desenvolvem e implementam a inovação. Também não ajudará a criar empregos nas empresas que fariam a publicidade das inovações. Nem nas empresas que treinariam os empregados sobre como usar a internet ou coisas do gênero. O ambiente de trabalho se torna enfadonho, chato. É preciso empurrar a empresa para a frente para gerar novos desafios. Se não for assim, haverá uma infelicidade pessoal muito grande, frustração. A vida também tem de ser excitante e divertida. Não é só uma questão de reduzir o nível de estresse ou de fazer alguma coisa pelas coronárias e pela longevidade. A vida é mais que longevidade. Como você pode ter prazer de viver se não está satisfeito com algo que faz durante dez horas do dia?
Confira a entrevista completa de Edmund Phelps publicada pela revista Época
Você precisa fazer log in para comentar.