O professor Richard Vietor, de 61 anos, responsável pelo curso de Economia Internacional na escola de Administração da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, diz que, hoje, os países competem de forma cada vez mais intensa para ganhar participação no mercado mundial. Autor do livro How Countries Compete – Strategy, Structure and Government in the Global Economy (Como os Países Competem – Estratégia, Estrutura e Governo na Economia Global), recém-lançado lá fora e ainda sem tradução no Brasil, ele afirma que, para prosperar nesse cenário, é preciso ter uma estratégia de desenvolvimento bem definida, o que é quase uma utopia no Brasil. Segundo Vietor, o governo também tem de cumprir seu papel, oferecendo as condições necessárias para que os empreendedores e as empresas possam fazer seu trabalho com eficiência. Na segunda-feira 12, ao falar a ÉPOCA, ele disse que tinha acabado de dar uma aula sobre o Brasil. Pôde, assim, usar o caso brasileiro para exemplificar muitas das idéias incluídas em seu último livro.
ÉPOCA – Como a globalização afeta o relacionamento entre os países?
Richard Vietor – Posso apontar duas grandes mudanças. Uma delas é que a competição aumentou muito. Com a redução das barreiras comerciais e o crescimento do intercâmbio de serviços e de tecnologia, os países estão competindo entre si de uma forma muito mais direta que antes. A segunda mudança: a maioria dos países conseguiu equacionar a dívida externa e concentrou-se na competição por participações crescentes na economia mundial. Os países também estão competindo mais por investimentos estrangeiros, tecnologia, qualidade de gestão e canais de distribuição.
ÉPOCA – Qual é o objetivo dessa competição toda?
Vietor – O objetivo é o crescimento e o desenvolvimento. Os países competem para se desenvolver, para reduzir a pobreza, humanizar a urbanização, melhorar o padrão de vida da população e criar emprego. Todos os países querem aumentar sua renda per capita real. Hoje, a renda per capita do Brasil é de cerca de US$ 3.900 por ano. Imagino que o Brasil gostaria de ter uma renda per capita anual igual à dos Estados Unidos, de US$ 40 mil. Mas é duro chegar lá. Isso é certo.
ÉPOCA – Em seu livro, o senhor diz que todos os países devem ter uma estratégia para se desenvolver. No Brasil, isso não acontece. Não sabemos nem o que queremos do etanol, cujo potencial é enorme…
Vietor – Qualquer país precisa ter uma estratégia de crescimento. Para desenvolvê-la, é preciso responder a algumas perguntas. Em que setores de alto valor agregado o Brasil quer ser um grande exportador? Como o Brasil vai melhorar a educação para que haja mão-de-obra disponível s para trabalhar em setores de alta tecnologia? Como o país vai segurar os salários para competir com a China? Nos Estados Unidos, a primeira política industrial foi feita por Alexander Hamilton (primeiro secretário do Tesouro americano) no século XVIII. Cingapura tem uma estratégia explícita e eficiente para se desenvolver. A Malásia acabou de anunciar seu terceiro grande plano industrial, cujo objetivo é torná-la um país rico até 2020. Alguns países se perdem no caminho. O Brasil, provavelmente, faz parte desse grupo.
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