Considerado pela revista britânica The Economist como um dos principais pensadores mundiais nas áreas de liderança e de recursos humanos, o professor e consultor Manfred Kets de Vries leva ao limite a interseção entre a psicologia e a administração. Ele diz que as emoções, tradicionalmente negligenciadas pelas empresas, estimulam o envolvimento e o comprometimento dos funcionários. “As pessoas gastam tanto tempo no trabalho que as empresas têm de ser uma comunidade”, afirma. “Elas precisam gostar umas das outras.” Segundo De Vries, a característica mais importante de um grande líder é o autoconhecimento. “Se você pretende ser um líder autêntico, precisa entender seus pontos fortes e suas fraquezas, suas motivações, seus desejos, seus sentimentos e saber como eles afetam seu comportamento.”
ÉPOCA – Em seus últimos livros, o senhor fala que é preciso dar vazão às emoções nas empresas. Por quê?
Manfred Kets de Vries – Até pouco tempo atrás, as emoções não tinham importância na vida das empresas. Nas organizações convencionais, as pessoas costumam trabalhar de forma mecânica, sem mostrar emoções. O modelo de gestão é desapaixonado. Hoje, mais e mais pessoas começam a se dar conta de que isso não funciona. O comando e o controle são coisas do passado. Se você quiser tirar o que as pessoas têm de melhor, tirar algo extra das pessoas, precisa inspirá-las. As pessoas têm de se sentir vivas no trabalho.
ÉPOCA – O que isso quer dizer?
De Vries – O que acontece nos workshops que faço com executivos mostra bem o que estou falando. Costumo pedir para eles fazerem um autorretrato. É uma forma de quebrar o gelo e descontrair o ambiente. Em geral, os executivos me olham como quem diz: “Meu Deus, o que você está fazendo?”. E eu digo que, se os filhos deles podem fazer isso, eles também podem. Depois, colo os desenhos na parede e escolho algumas pessoas para explicar o que fizeram. Uma vez, quando estava dando um workshop para 25 executivos de um grande banco internacional, pedi para o presidente explicar seu desenho. Em vez de um autorretrato, ele tinha desenhado uma menina. Eu perguntei: “Por que você desenhou uma menina?”. Ele disse que era sua filha, e ela tinha morrido. E começou a chorar. Ele é o presidente do banco, e não o Super-Homem. É um ser humano – e isso não muda quando está trabalhando.
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