O economista Nouriel Roubini, consultor de empresas e professor da Universidade de Nova York, é um dos poucos profissionais da área que têm um índice de acerto impressionante em suas previsões. Em 2006, quando ninguém falava em quebradeira de bancos, ele provocou risadas na platéia ao prever a atual crise financeira durante uma palestra realizada na sede do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. Em fevereiro, previu também a quebra do Bear Stearns, banco de investimento americano, e de outras instituições financeiras. O New York Times dedicou, em agosto, diversas páginas de sua revista dominical a uma reportagem sobre Roubini, chamado pelo jornal de “o visionário que viu a crise chegando”.
Nascido em Istambul numa família de judeus iranianos, Roubini, de 51 anos, está hoje radicado nos Estados Unidos. Ele se transformou numa figura indispensável ao debate econômico. De repente, todos querem ouvir o que Roubini tem a dizer. Mas poucos conseguem chegar até ele. Na semana passada, ÉPOCA aproveitou uma brecha na agenda de Roubini, antes de um encontro que tinha marcado com a senadora americana Hillary Clinton, em Nova York, onde ele vive. Roubini falou sobre o impacto da crise atual na economia global e previu que ela vai durar, no mínimo, até meados de 2009.
ÉPOCA – O senhor antecipou a atual crise e tem sido muito preciso em suas previsões econômicas. O que o senhor viu no passado recente que os outros não viram?
Nouriel Roubini – Minha experiência e meu conhecimento da história econômica e das crises financeiras em países emergentes, além de meu contato com o mercado financeiro, me permitiram montar o quebra-cabeça e perceber que haveria uma severa crise financeira. Em geral, no mercado financeiro há muita ilusão. As pessoas são excessivamente otimistas. As autoridades também tendem a ser sempre cautelosas no que dizem. E os economistas que trabalham para instituições financeiras não costumam reconhecer os riscos que existem à frente. Quando há uma bolha, as pessoas dizem: “Bom, esse é um novo mundo e as coisas serão diferentes”. Acreditam que as coisas são sustentáveis, mesmo quando não são. É preciso ser um economista independente para reconhecer que o rei está nu.
ÉPOCA – Com base em que indicadores o senhor se deu conta de que havia uma crise em gestação?
Roubini – Há dois anos, quando comecei a falar sobre o risco de haver uma crise no mercado imobiliário, vi excessos, como a multiplicação dos preços dos imóveis por dois em apenas dez anos. Isso não me parecia justificável. Eu me dei conta de que havia uma bolha no mercado de crédito de forma geral, pouco rigor para a concessão de empréstimos e percebi que o consumidor americano estava excessivamente endividado. Aí, cheguei à conclusão de que uma crise no mercado imobiliário levaria a outra nas empresas de crédito imobiliário e que isso, somado a uma alta nos preços do petróleo e de outras fontes de energia, jogaria a economia numa recessão e poria o mercado financeiro numa crise séria. Já vimos isso acontecer várias vezes antes, tanto nos EUA como em outros países. Então, era só uma questão de unir os pontos e perceber que isso era insustentável e levaria a uma crise financeira.
ÉPOCA – Esta crise é tão grave assim quanto parece? O mundo está mesmo derretendo?
Roubini – O mundo pode não estar derretendo, apesar de, nas últimas duas semanas, termos chegado perto de um derretimento do setor financeiro. Mas essa crise certamente é a pior que os EUA e os países desenvolvidos viveram desde a Grande Depressão, em 1929. A crise não deverá ser tão severa como a Grande Depressão, em que houve um encolhimento de 20% ou mais na economia. Mas, mesmo que haja uma recessão e uma crise bancária que durem dois anos, será muito mais séria e longa que qualquer outra crise nos últimos 40 ou 50 anos.
Você precisa fazer log in para comentar.