Em entrevista ao Estado para a série A reconstrução do Brasil, cujo objetivo é discutir os grandes desafios do País pós-impeachment, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, líder do PSDB, afirma que a falta de representatividade e o descrédito dos políticos não é uma exclusividade brasileira, mas um fenômeno global. Segundo ele, porém, no Brasil, o problema é agravado pela proliferação de partidos inexpressivos, sem preocupação com os interesses da sociedade. “Nosso maior problema é o clientelismo, o corporativismo, interesses de grupos em manter ou ampliar seus privilégios”, diz. “Nunca se fala no interesse comum.”
Na entrevista, Fernando Henrique afirma também que a reforma política em gestação no Senado Federal, embora parcial, poderá contribuir para melhorar as práticas políticas no País. “Em matéria de reforma, eu já tentei muitas e você sabe que quando tenta mudar tudo não consegue mudar nada”, afirma. Em relação à anistia para o caixa 2 de campanha, articulada nas sombras em Brasília, ele diz que “não há clima” para aprovar uma medida do gênero hoje no Brasil. “No momento, a opinião pública não aceita a anistia de nada.”
Estado – As pesquisas de opinião apontam, de forma geral, um grande descrédito, uma grande desconfiança da população em relação aos políticos no Brasil – e não é de hoje. Como o senhor analisa essa questão?
Fernando Henrique – Isso não é só aqui, é geral. No mundo todo, se está com um pé atrás em relação à política e aos políticos. A sociedade mudou muito, talvez com mais rapidez do que os políticos se adaptaram a essas mudanças. Os políticos vêm de uma tradição em que os partidos tinham, de alguma maneira, um enraizamento forte na sociedade. Numa certa época, havia quase uma correlação entre partidos e classes sociais. As pessoas se sentiam representadas. A ideia era essa. Hoje, não que não existam classes, porque, obviamente, elas estão estão aí, mas a sociedade se transformou e existem muitas outras identidades. É importante o que você pensa sobre o racismo, a imigração, o movimento LGBT, drogas, meio ambiente. Tornou-se muito mais difícil você encontrar uma correspondência de posição dos políticos com essa multiplicidade de questões. Houve quase uma separação entre o que os políticos e a sociedade falam. Os políticos falam de uns temas e a sociedade de outros. De onde vem essa sensação de vazio, de falta de correspondência entre os anseios das pessoas e o comportamento dos políticos.
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