O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, de 53 anos, é o artífice da “contabilidade criativa” – a irônica expressão com que vários economistas e operadores de mercado designam os truques contábeis implementados pelo governo nos últimos anos, para afirmar que cumpre as metas fiscais. Augustin aproximou-se da presidente Dilma Rousseff no governo do petista Olívio Dutra no Rio Grande do Sul (1999-2002), quando ele era secretário da Fazenda, e ela secretária de Minas e Energia. Há seis anos à frente do Tesouro, o período mais duradouro no cargo na história, Augustin se tornou um dos assessores mais influentes do Palácio do Planalto. Nesta semana, ele deu entrevista a ÉPOCA.
ÉPOCA – Como o senhor analisa a situação fiscal do país?
Arno Augustin – O Brasil é um país de fundamentos muito sólidos. Saímos de uma relação dívida-PIB de mais de 60% para uma relação abaixo de 35%. Portanto, uma evolução muito significativa e positiva, que permite ao país adequar seu resultado fiscal às necessidades da economia. Quando a economia está numa situação que exige maior estímulo, podemos fazê-lo, como fizemos na crise de 2008-2009 e também agora nesta crise. Uma demonstração mais recente disso é que, em setembro, tivemos a maior colocação de títulos da dívida interna. Em relação à dívida externa, tivemos agora em outubro o lançamento de uma nova série de nossos títulos de dez anos com uma demanda de US$ 10 bilhões.
ÉPOCA – Os principais organismos internacionais, como FMI (Fundo Monetário Internacional) e OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), têm manifestado preocupação com nossa situação fiscal. Até economistas pró-governo, como o ex-ministro Delfim Netto, criticam a política fiscal e o que vem sendo chamado de “contabilidade criativa”. Está todo mundo errado e só o governo está certo?
Augustin – O mundo está certo. Tanto está certo que comprou os títulos que o Brasil emitiu em outubro no mercado internacional. O que o mundo pensa, o que o mercado pensa, a gente verifica na precificação de nossos títulos. A posição é muito favorável ao Brasil. Todos os relatórios internacionais buscam ver os aspectos positivos e negativos do país e sugerir políticas. Têm de ser bem ponderados. Você pode escolher esse ou aquele comentário e tratá-lo como o centro do relatório. Ou não. Depende do que você quer destacar. Não sei o que é a contabilidade criativa, não sei do que você está falando.
ÉPOCA – Segundo diversos especialistas em contas públicas, o governo faz operações não convencionais para atender à meta do superavit primário. Com isso, o indicador oficial perdeu sua credibilidade. Um segundo indicador, não elaborado pelo governo e sem essas operações exóticas, é usado pelo mercado: o superavit primário recorrente.
Augustin – Onde está publicado esse segundo superavit?
ÉPOCA – Eles não publicam.
Augustin – Ah tá. E você vai publicar?
ÉPOCA – Vou publicar o superavit livre de ondulações exóticas.
Augustin – Então usará um indicador não previsto em nenhum país.
Você precisa fazer log in para comentar.