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“Não fazemos guerrilha urbana” Para o líder dos sem-teto, invadir áreas públicas e privadas é semelhante ao que fizeram pacifistas como Martin Luther King, ao fechar ruas dos EUA

O ativista Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, o MTST, ganhou visibilidade ao liderar a ocupação de uma área privada, com 150.000 metros quadrados, ao lado do Itaquerão, palco dos jogos da Copa do Mundo em São Paulo, dias antes do início do torneio. Ele também esteve à frente das manifestações em defesa do novo Plano Diretor paulistano, aprovado pela Câmara Municipal. O novo plano regularizou várias ocupações do MTST – inclusive a Copa do Povo, como ficou conhecido o acampamento de Itaquera. Formado em filosofia pela USP, com especialização em psicanálise lacaniana, Boulos, de 32 anos, começou a militar em movimentos sociais ainda na faculdade. Recentemente, num sinal da força adquirida pelo MTST, Boulos encontrou, em ocasiões diferentes, a presidente Dilma Rousseff, o ministro Gilberto Carvalho, o governador paulista, Geraldo Alckmin, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para negociar questões ligadas à moradia popular no país.

ÉPOCA – A Câmara de São Paulo aprovou recentemente um novo Plano Diretor para a cidade. Ele regulariza várias ocupações do MTST, como a da Copa do Povo, em Itaquera, na Zona Leste. Ocupar áreas públicas e privadas dá resultado?
Guilherme Boulos – Diante do fracasso das políticas públicas em resolver o problema de moradia, os trabalhadores que vivem na periferia não têm outra opção, a não ser promover ocupações. Nos últimos anos, o problema da moradia para os mais pobres tem se tornado cada vez mais grave, por causa do aumento estratosférico dos valores dos aluguéis e de um processo contínuo de especulação imobiliária nas grandes metrópoles brasileiras.

ÉPOCA – Antes da aprovação do Plano Diretor de São Paulo, o MTST ameaçou lançar uma “onda vermelha”, com protestos em grande escala. Agora, com a regularização de várias ocupações do movimento, o que pretendem fazer?
Boulos – Quando se têm vitórias, mesmo limitadas, a tendência é que, pelo menos por um período, o nível de mobilização seja menos intenso. Isso não quer dizer que as ocupações cessarão.

ÉPOCA – Vocês fizeram um acordo com o governo federal para não promover manifestações durante a Copa?
Boulos – Não. Tanto é que no dia da votação do Plano Diretor de São Paulo, o MTST estava com 10 mil pessoas na frente da Câmara para defender sua aprovação. Na semana anterior, houve outras tantas, em Brasília, no Rio de Janeiro. Não houve nenhum acordo. Para nós, estar nas ruas é um ponto inegociável.

Leia a entrevista completa publicada na revista Época

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