O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto, é um “dilmista light”. Ele defende a abertura comercial e a retomada das reformas estruturais, como a tributária e a da Previdência, abandonadas pelo governo. Ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e senador licenciado pelo PTB, o pernambucano Monteiro Neto, de 63 anos, está preparando um pacote de medidas de estímulo à exportação, que deverá ser anunciado nas próximas semanas. Nesta entrevista a ÉPOCA, ele fala sobre os custos do ajuste fiscal, a abertura da economia e o impacto do petrolão nos negócios.
ÉPOCA – O Brasil passa por uma das piores crises econômicas e políticas desde a redemocratização. Enquanto a Europa, os EUA e outros países estão voltando a crescer, o Brasil está patinando. Qual é sua visão sobre a crise?
Armando Monteiro Neto – Eu não diria que o Brasil vive uma crise econômica dessa magnitude. A crise atual é diferente das anteriores. No passado, elas estavam associadas ao processo de descontrole inflacionário, de grande instabilidade macroeconômica e de tensões sociais e políticas. Hoje, paradoxalmente, temos um regime quase de pleno emprego, um ambiente institucional de normalidade e não passamos por uma crise externa aguda. Agora, não podemos deixar de reconhecer que o Brasil foi acumulando problemas e adiando as reformas estruturais. Nos últimos dez, 12 anos, tivemos um bônus que nos foi dado pela conjuntura internacional. Ela permitiu ganhos extraordinários no intercâmbio comercial. Tivemos também um processo de ampliação do mercado doméstico em decorrência de políticas sociais bem-sucedidas e de um processo de redistribuição de renda. Mas esses anos de bonança diminuíram o ímpeto reformista do Brasil. Ficamos numa situação relativamente cômoda e adiamos as reformas que deveríamos ter promovido nesse período.
ÉPOCA – A que reformas exatamente o senhor se refere?
Monteiro Neto – Talvez a mais importante seja a reforma tributária. Um novo pacto federativo deveria ter sido desenhado, para redefinir encargos e a partição da renda entre os entes da Federação. Nosso ambiente na área das relações trabalhistas também já poderia ter sido modernizado, sem colocar em xeque os direitos dos trabalhadores. Na Previdência, deveríamos ter feito uma nova geração de reformas. Se o Brasil não retomar firmemente uma agenda pró-reforma, pró-competitividade, estará condenado a crescer pouco, mesmo quando alcançarmos o reequilíbrio macroeconômico.
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