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Muhammad Yunus: “Dar dinheiro para os pobres mascara a miséria” Para o prêmio Nobel da Paz de 2006, o estímulo ao empreendedorismo é mais eficaz para resolver a pobreza do que programas assistencialistas, como o Bolsa Família

O economista Muhammad Yunus, prêmio Nobel da Paz em 2006, foi um visionário ao apostar na concessão de microcrédito e no empreendedorismo para reduzir a miséria em Bangladesh, onde ele nasceu e vive até hoje. Fundador do Grameen Bank, em 1976, e autor do livro O banqueiro dos pobres (Ed. Ática), Yunus contribuiu de forma decisiva para popularizar o microcrédito em todo o mundo. Segundo ele, o empreendedorismo é uma solução mais eficaz do que programas assistencialistas, como o Bolsa Família, para reduzir a pobreza. “Dar dinheiro para os pobres não é uma solução para a miséria”, diz. “É uma forma de mascarar o problema.”

Afastado do Grameen há dois anos, Yunus agora se dedica a outros negócios sociais, como uma companhia que vende painéis de energia solar de baixo custo, uma escola de enfermagem e um hospital oftalmológico. Na semana passada, ele esteve no Brasil para anunciar o lançamento de um fundo local de investimento em negócios sociais e participar da abertura do ciclo de eventos do Movimento Empreenda, promovido pela Editora Globo, que edita ÉPOCA. Nesta entrevista, ele fala sobre sua tentativa frustrada de abrir uma base do Grameen no Brasil durante o governo Lula, sobre a tentativa do governo de Bangladesh de desacreditá-lo e de estatizar o banco e sobre os empreendimentos em que está envolvido.

Por José Fucs e Marcos Coronato

ÉPOCA – O senhor foi o criador da ideia de que é possível resolver o problema da miséria por meio do microcrédito e do estímulo ao empreendedorismo. Em sua opinião, essa é uma solução mais eficaz do que o governo dar dinheiro às pessoas, como acontece no Brasil, com o Bolsa Família?
Muhammad Yunus – Dar dinheiro não é uma solução. É uma forma de mascarar o problema. Você deixa de ver o problema, porque as pessoas conseguem sobreviver, comer, se divertir. Parece que está tudo bem, mas não está, porque o dinheiro não é delas. Então, a doa­ção de dinheiro é uma solução temporária e não permanente. Para termos uma solução permanente, as pessoas têm de cuidar de si mesmas. Só assim elas podem se tornar agentes ativas de mudança. As crianças de uma família que depende de subsídios crescem acreditando que não precisam trabalhar, que podem sobreviver sem ter de se esforçar para melhorar de vida. Essa não é uma solução permanente para o problema da miséria.

ÉPOCA – Alguns anos atrás, o senhor esteve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, quando ele estava no governo, e falou sobre seus planos de trazer o Grameen ao país. Por que a ideia não avançou?
Yunus – Na época, ele demonstrou um grande entusiasmo pela ideia, mas não deu sequência. Seu pessoal, que deveria nos contatar depois, não deu continuidade ao projeto.

ÉPOCA – Talvez ele tenha imaginado que o Grameen pudesse fazer sombra ao Bolsa Família…
Yunus – Não sei a razão. Chegamos a ter um encontro com o Banco do Brasil, que também demonstrou interesse na ideia. Eles têm um programa de microcrédito, querem fazer algo, mas nada de concreto aconteceu até agora. Eles não fecharam questão em relação a isso. A gente continua a conversar, mas talvez eles estejam ocupados com outras coisas.

Leia a entrevista completa publicada na revista Época