O engenheiro e economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo Fernando Henrique Cardoso, diz que o governo Dilma não está atacando a inflação como deveria. Para ele, o atual governo tem preferido adotar medidas como controle do crédito e do fluxo de capitais do exterior, cuja eficácia contra a alta de preços é duvidosa, a aumentar os juros, como recomenda o receituário ortodoxo implementado durante a gestão de Lula na Presidência. “Não adianta vir com gotinha da Weleda, chá de camomila e compressa quente”, diz Mendonça de Barros. “Não é assim que se combate a inflação. É com dieta, antibiótico, cama e sofrimento. Não tem outro jeito.”
ÉPOCA – O senhor tem dito que a gestão da economia está sofrendo grandes mudanças no atual governo. Por quê?
Luiz Carlos Mendonça de Barros– Está havendo uma mudança significativa na forma de entender o capitalismo brasileiro. É uma mudança abrangente, de leitura da economia, da função do Estado, da sociedade. Desde as eleições, comecei a ficar desconfiado de que a Dilma implementaria uma política macroeconômica mais identificada com as ideias do PT – e foi o que aconteceu. Historicamente, o pensamento econômico do PT foi construído por um grupo de economistas do qual fazem parte o (Luiz Gonzaga) Belluzzo, o João Manuel (Cardoso de Mello) e o Luciano Coutinho (presidente do BNDES) , quase todos ligados à Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) . A própria Dilma estudou na Unicamp. Tem uma relação preferencial com vários economistas de lá. O (Guido) Mantega (ministro da Fazenda) , embora seja da FGV (Fundação Getulio Vargas) , sempre esteve ligado a esse grupo. O (Aloizio) Mercadante (ministro da Ciência e Tecnologia) também. Eles seguem a escola pós-keynesiana de Cambridge (Inglaterra) , que defende uma interferência muito forte do Estado na economia.
ÉPOCA – Que mudanças são essas?
Mendonça de Barros– A primeira mudança é que a nova diretoria do Banco Central não tem nenhum economista de mercado. Ou, como esse pessoal gosta de dizer, não tem nenhum monetarista. É formada por burocratas. A segunda mudança é que, em vez de tentar controlar a inflação por meio da política monetária, o governo passou a privilegiar as medidas chamadas de macroprudenciais, como controle de crédito e do fluxo de capitais externos. A mudança mais gritante, porém, foi no sistema de metas de inflação, que vinha sendo a âncora da política econômica. Toda vez que a inflação começava a fugir do centro da meta o Banco Central aumentava o juro, para reduzir o nível de atividade e levar a inflação de volta para a meta no menor prazo possível. De repente, passaram a dizer que não sacrificariam o crescimento para fazer a inflação convergir rapidamente ao centro da meta e que olhariam o comportamento da inflação em um prazo mais longo. Além disso, não comunicaram direito essa mudança. Isso aumentou muito a insegurança do mercado. Houve uma série de erros ao mesmo tempo. Talvez seja um sinal de que Deus já não esteja protegendo tanto a presidente do Brasil como protegeu o Lula em seu governo.
Leia a entrevista completa de Luiz Carlos Mendonaça de Barros publicada na revista Época
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