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Mark Mobius: “A ideia do Brasil decolando passou” O investidor americano diz que o aumento das incertezas na economia afeta a imagem do país no exterior. Mas aposta que o Brasil continuará a ser um dos destinos preferidos dos estrangeiros

O economista e cientista político americano Mark Mobius, de 77 anos, tem um cacife poderoso. Como comandante da área de mercados emergentes da Franklin Templeton, uma das principais empresas de administração de recursos dos Estados Unidos, Mobius é responsável pela gestão de US$ 54 bilhões em investimentos de clientes, dos quais US$ 4,5 bilhões estão aplicados no Brasil. Nesta entrevista a ÉPOCA, ele diz que a lua de mel dos investidores globais com o Brasil chegou ao fim. Segundo Mobius, o que mais preocupa os estrangeiros hoje não é tanto o baixo crescimento do país, a alta carga tributária ou a intervenção estatal na economia. São as incertezas provocadas pela constante mudança nas regras do jogo pelo governo. Ele afirma, porém, que o Brasil continuará a atrair os investidores do exterior. “Se você quiser apostar na América Latina, tem de estar no Brasil.”

ÉPOCA – Em 2009, a revista britânica The Economist publicou uma reportagem de capa sobre o Brasil, em que o Cristo Redentor aparecia decolando, como um foguete. Desde então, a imagem do Brasil no exterior se deteriorou significativamente, com a publicação de várias reportagens negativas sobre o país, inclusive na própria Economist. A lua de mel da mídia e dos investidores globais com o Brasil acabou?
Mark Mobius – A ideia do Brasil decolando passou. Um país como o Brasil deveria crescer como a China, na faixa de 6%, 7% ou 8% ao ano – e não 1%, 2% ou 3%.

ÉPOCA – Em sua opinião, o que o Brasil deveria fazer para crescer mais?
Mobius – O Brasil tem uma grande população de baixa renda que precisa melhorar de vida. A boa notícia é que, hoje, existe praticamente pleno emprego no país. A política de rendas, implementada no governo Fernando Henrique e mantida nas últimas administrações, funcionou muito bem. O governo está tentando distribuir a riqueza – e isso é uma coisa boa. Claro que não se pode chegar ao ponto em que as pessoas prefiram não trabalhar para receber a bolsa do governo, como está acontecendo, porque isso tem um impacto negativo na produtividade. Nos países que mais crescem no mundo, a produtividade é muito alta. É por isso que eles crescem tanto. É isso que o governo tem de entender, tentar atacar e resolver. A não ser que prefira privilegiar os objetivos de curto prazo, pensando na reeleição. Um jeito fácil de ser reeleito é “comprar” votos, fazendo pagamentos diretos à população, liberando isso, liberando aquilo, segurando os preços da gasolina e socorrendo empresas e setores da economia. Se você subsidia o preço da eletricidade, o preço da gasolina, o preço do álcool, acaba havendo desperdício, porque as pessoas usarão mais o que é barato. Para atacar esses problemas, que não dão retorno imediato, mas no longo prazo, é preciso haver uma liderança muito forte.

Leia a entrevista completa de Mark Mobius publicada na revista Época