Nova Délhi — O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, de 73 anos, que deve desembarcar em Brasília na segunda-feira para participar de negociações bilaterais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de um encontro do fórum tripartite com o Brasil e a África do Sul, é considerado o pai do milagre econômico do país. A Índia deverá crescer 8% em 2006, de acordo com as últimas estimativas oficiais. Idealizador das medidas de liberalização adotadas a partir de 1991, quando estava à frente do Ministério das Finanças, Singh abriu o caminho para que a Índia se transformasse em uma das estrelas da economia global nos últimos anos e deixasse para trás a filosofia estatizante que marcara sua história desde a independência, em 1947.
Economista com doutorado na Universidade de Oxford, no Reino Unido, Singh se diz, curiosamente, um admirador do economista brasileiro Celso Furtado (1920-2004), conhecido por suas teorias refratárias ao capital internacional. Singh conheceu Furtado quando trabalhava no Fundo Monetário Internacional (FMI), nos anos 1970, e em órgãos de planejamento econômico do governo indiano.
Na terca-feira 5, ele recebeu ÉPOCA em sua residência oficial, uma fortaleza protegida por sete barreiras de segurança numa região nobre e arborizada de Nova Délhi. Vestindo um traje branco tipicamente indiano, um colete cinza e o tradicional turbante usado pelos siques – seguidores de uma religião com cerca de 20 milhões de adeptos na Índia (2% da população) –, ele falou, com voz baixa e suave, sobre o futuro das relações entre o Brasil e a Índia, a globalização e as mudanças que julga necessárias no sistema político-econômico internacional. Eis os principais trechos da entrevista.
Sobre a globalização
“A globalização é uma realidade. Temos de reconhecer que a ciência e a tecnologia tornaram o conceito de distância geográfica uma coisa do passado. O desafio é tornar o processo de globalização mais abrangente e tão atraente a todas as nações quanto possível. O mundo deve caminhar em direção a um sistema mais equilibrado. Isso requer uma reforma do sistema político-econômico global. Hoje, o que temos é um assalto econômico global. A estrutura criada em 1945, que inclui o FMI, a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial (Bird), podia fazer sentido naquela época. Mas hoje o mundo está diferente. Se os países em desenvolvimento trabalharem juntos, poderão desempenhar um papel preponderante na construção de um novo sistema político-econômico global.”
Sobre o Brasil
“Sempre admirei o Brasil. Tive vários amigos brasileiros, como Celso Furtado, cujos livros e textos sobre o subdesenvolvimento são considerados clássicos desde os tempos em que eu era estudante. Os economistas brasileiros me ajudaram muito a entender o processo de dependência dos países subdesenvolvidos. Tenho grande respeito pelos economistas brasileiros. O modelo de desenvolvimento do Brasil desperta no mundo todo um interesse considerável. E o serviço diplomático do Brasil é, provavelmente, um dos mais profissionais do mundo.”
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