Outro dia, diante da notícia de que o governo estaria interessado em abrir o capital da Caixa, não pude conter a gargalhada. “Não é possível”, pensei. “Eles devem estar brincando.” Mas não. Era para valer.
Por mais absurdo que pareça, o governo está mesmo interessado em vender parte de sua participação na instituição, para conseguir um dinheiro extra para cobrir o rombo nas finanças públicas e, se possível, tocar algum projeto mirabolante idealizado nos gabinetes de Brasília.
Pelos cálculos do governo, a operação poderá render cerca de R$ 20 bilhões – o equivalente a 40% do valor que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, espera obter em 2015 com o ajuste fiscal, somando as medidas de aumento de impostos e de corte de gastos.
Confira o texto publicado originalmente no site da revista Época
É difícil, porém, imaginar quem irá investir seu rico dinheirinho no papelorium da Caixa, com o retrospecto negativo do governo no mercado de capitais, em especial nas gestões de Lula e Dilma. Você, em sã consciência, compraria ações da Caixa pensando na sua aposentadoria ou em ganhar uns trocados com a valorização dos papéis no curto prazo? Eu, não.
Basta ver o que o governo fez com a Petrobras para entender o que estou falando. Além de ter sido usada como ferramenta de política econômica e impedida de aumentar os preços dos combustíveis para ajudar o governo a controlar a inflação, com efeitos perversos no balanço, a Petrobras tornou-se, como se sabe, um antro de corrupção jamais visto na história do país. A bandalheira causou prejuízos gigantescos aos acionistas minoritários, que estão movendo ações na Justiça brasileira e nos EUA para responsabilizar a empresa e recuperar as perdas que sofreram. Só no governo Dilma, as ações da Petrobras perderam dois terços de seu valor – uma paulada monumental no bolso dos investidores.
O que aconteceu com as ações de outras empresas estatais cotadas na Bolsa de Valores, como as do Banco do Brasil, não foi diferente. Assim como a Caixa, o BB foi usado como instrumento da cruzada de Dilma contra os juros altos, em prejuízo de seus acionistas minoritários. Desde o final de 2010, o BB perdeu 22% de seu valor de mercado, que passou de R$ 89, 8 bilhões para R$ 71,1 bilhões agora. Só em 2014, o lucro do banco caiu 28,6%, segundo dados oficiais.
No caso da Caixa, que é 100% controlada pela União, não dá para ter uma ideia precisa do estrago causado pela interferência política na gestão. Recheada de esqueletos bilionários, a Caixa tem atuado praticamente como um braço do Tesouro Nacional. Foram tantas as manobras contábeis feitas com o Tesouro nos últimos anos que não seria exagero rebatizá-la de ‘Caixa Preta’, em vez de chamá-la simplesmente de Caixa.
Em janeiro, veio à tona uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU), na qual o governo é acusado de ter usado a Caixa para promover ‘pedaladas fiscais’. Segundo a investigação do TCU, a Caixa usou recursos próprios para realizar pagamentos de responsabilidade da União, como os benefícios do Bolsa Família, o seguro-desemprego e o abono salarial – o que é proibido pela legislação. O Tesouro atrasava as transferências de recursos para a Caixa, com o objetivo de inflar artificialmente os resultados das contas públicas e enganar os incautos sobre a real situação fiscal do país.
Por tudo isso, a intenção de abrir o capital da Caixa só pode ser vista como uma piada – e de mau gosto. A não ser que o governo pretenda socar a papelada nos fundos de pensão das estatais, inclusive o Funcef, dos funcionários da própria Caixa. Aparelhados pelo PT, os fundos têm sido usados com frequência pelo governo para bancar projetos de seu interesse, apesar de serem instituições de direito privado que deveriam agir com o fim exclusivo de garantir a aposentadoria de seus segurados e o patrimônio acumulado com suas contribuições. Só que, no atual governo, isso não passa de uma quimera.
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