A médica norueguesa Gro Brundtland, de 75 anos, é uma das mais respeitadas autoridades em meio ambiente e saúde pública do mundo. Ex-primeira-ministra da Noruega, ex-presidente da Comissão sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas e ex-diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), ela foi a criadora do termo “desenvolvimento sustentável”, nos anos 1980. No final de setembro, ao passar por São Paulo para dar uma palestra sobre o tema – a convite do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso –, Brundtland falou a ÉPOCA. Na entrevista, defendeu a tributação das emissões de gás carbônico, para conter o aquecimento global, e criticou a política brasileira de estímulo à compra de carros a gasolina.
ÉPOCA – Nos anos 1980, quando pouco se fazia no mundo em defesa do meio ambiente, a senhora criou o termo “desenvolvimento sustentável”. Hoje, 30 anos depois, a situação mudou muito?
Gro Brundtland – Sim, houve mudanças. As pessoas, agora, estão mais alertas. O mundo inteiro discute o desenvolvimento sustentável. Foram criadas diversas instituições internacionais. As universidades e organizações não governamentais (ONGs) entenderam a importância do tema. Muitos países adotaram medidas para enfrentar o problema e se deram conta de que os congestionamentos de veículos não podem continuar jogando combustíveis fósseis e fumaça no ar. Isso é danoso à saúde e ao clima. Só que as mudanças têm sido muito lentas. Hoje, mais e mais pessoas percebem que as mudanças climáticas e a deterioração do meio ambiente chegaram a um ponto crítico.
ÉPOCA – Na prática, o que foi feito nas últimas décadas contra a degradação do meio ambiente e o aquecimento global?
Brundtland – Em 1987, quando a Comissão sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas divulgou o relatório Nosso futuro comum, que propunha medidas para o crescimento sustentável, muito dióxido de enxofre (um gás altamente tóxico usado na produção de refrigeradores) ainda era jogado no ar. Na Europa, fábricas com grandes chaminés lançavam diversos gases contendo dióxido de enxofre, que vem da queima de óleo e carvão. Isso criava acidez nos lagos, corroía metais e até o concreto dos edifícios. Dava para ver o estrago na natureza e nas obras humanas. No final da década de 1980, conseguimos fazer um acordo para reduzir em 30% essas emissões. Foi uma luta dura.
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