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Entre a confusão de Dilma e a clareza de Obama Ao contrário de Dilma, que não consegue articular uma frase com começo, meio e fim, Obama mostrou no Discurso do Estado da União que tem o dom da palavra e uma visão estratégica clara sobre os EUA e o mundo

Tive a oportunidade de assistir ontem na CNN um bom trecho do Discurso do Estado da União, proferido pelo presidente americano, Barack Obama, no Congresso, em Washington. Foi o último discurso do gênero – uma tradição que marca o início de cada ano legislativo nos EUA – feito por Obama. Em novembro, será escolhido o seu sucessor, que deverá tomar posse em 20 de janeiro de 2017 e ser o responsável pelo próximo discurso anual no Congresso.

Não sou obamista, nem tenho uma simpatia especial pelo presidente americano. Mas tenho de admitir que, ao vê-lo discursar, senti uma ponta de inveja dos americanos, que tem um presidente à altura do cargo. Ao contrário da presidente Dilma, que não consegue articular uma frase com começo, meio e fim e passa a seus interlocutores a impressão de não ter a menor ideia do que está falando, Obama tem o dom da palavra, sabe o que quer e possui uma visão estratégica clara sobre os Estados Unidos e o mundo.

Em seu discurso, Obama certamente não perdeu a oportunidade de defender o seu legado, nem de mandar recados para a oposição, em especial para dois dos candidatos a candidatos mais radicais do Partido Republicano, o bilionário Donald Trump e o senador Ted Cruz. Só que, em vez de semear a discórdia e se perder em manifestações vazias de ufanismo, como costumam fazer Dilma, Lula e outros líderes petistas no Brasil, Obama criticou a oposição com tal elegância que mesmo seu mais aguerrido adversário deve ter lhe dado parabéns e apertado a sua mão no final do discurso. Ou, ao menos, admitido, em silêncio, a tremenda capacidade que Obama tem de expressar as suas ideias.

Leia o texto publicado no site da revista Época

Ao contrário de Dilma e dos petistas, que se recusam a admitir seus erros na economia, no petrolão e em tudo o mais que fizeram nos últimos 13 anos e que não deu certo, Obama também parece não ter problema em aceitar as suas limitações. Sem qualquer constrangimento, ele reconheceu explicitamente o seu fracasso em reformar a política americana e em conseguir estabelecer um diálogo de alto nível com a oposição, em torno de ideias e projetos objetivos. Disse que esta foi, talvez, a sua maior falha. Coisa de Primeiro Mundo, talvez.

Independentemente de ser contra ou a favor de Obama e de suas políticas de bem estar social, muitas das quais parecem estar em oposição aos ideais de liberdade e individualismo que inspiraram os fundadores da República americana, é preciso reconhecer que ele está à altura do cargo e é um líder que merece – se não a admiração – o respeito de todos.

Infelizmente, no Brasil, só sabemos o que isso significa vendo pela TV o que acontece em outros países. Quem sabe, um dia, voltaremos a ter um presidente da República – qualquer que seja ele e a sua ideologia – que possa, no mínimo, saber se expressar com clareza e que faça política com P maiúsculo.