De tudo o que já aconteceu nesta campanha eleitoral, da morte trágica de Eduardo Campos à virada espetacular de Aécio Neves no primeiro turno, dos ataques impiedosos a Marina Silva às manipulações de dados e informações pelo PT, talvez nada seja tão surpreendente quanto a resistência da candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição.
Diante do uso descarado da máquina pública federal em benefício de Dilma e da série inesgotável de escândalos envolvendo o seu governo e o PT, é difícil, quase impossível, acreditar, para quem ainda bota fé na humanidade, que dezenas de milhões de eleitores simplesmente fechem os olhos a tudo-isso-que-está-aí e ainda se proponham a votar nela nas eleições do próximo domingo, dia 26.
Como estamos cansados de saber, essa resistência se deve, em boa medida, à central de infâmias montada pelo PT contra seus adversários, coordenada pelo marqueteiro João Santana, que tem pouco ou nenhum compromisso com a verdade para criar suas peças de propaganda. Deve-se também aos 14,6 milhões de beneficiários do Bolsa-Família, que recebem um “salário” do governo federal todos os meses. Na falta de outros argumentos para cativar o eleitorado, o PT promove o terrorismo nas comunidades de baixa renda, espalhando de forma criminosa o boato de que os programas sociais serão suspensos se a oposição ganhar o pleito. Os caciques do PT até defendem isso abertamente nos programas eleitorais no rádio e na TV, sem a menor cerimônia, como se incorporassem o espírito de Macunaíma, o herói sem nenhum caráter criado pelo escritor Mário de Andrade no início do século passado.
Se deduzíssemos os beneficiários do Bolsa-Família do eleitorado de Dilma, ainda lhe sobrariam cerca de 50 milhões de eleitores, caso os dados da última pesquisa do Datafolha, na qual Dilma aparece com 46% das preferências, equivalentes a cerca de 65 milhões de votos, estejam corretos. Mesmo se, num arroubo de generosidade, multiplicássemos por dois o número de beneficiários do Bolsa-Família, ainda restariam 35 milhões de pessoas decididas a votar em Dilma, em meio ao lamaçal em que chafurdam o PT e seu governo.
Infelizmente, no Brasil, a ação imoral e antiética de políticos e autoridades não parece ser suficiente para os eleitores defenestrarem seus nomes nas urnas. Ao contrário. Muita gente, se puder, ainda dá um jeito de tirar a sua lasquinha. Talvez, o melhor (ou pior) exemplo dessa triste realidade seja o velho Ademar de Barros (19801-1969), o ex-governador de São Paulo, que se tornou conhecido pelo slogan “rouba, mas faz”, por conta das negociatas que promovia quando estava no poder. Apesar disso, Ademar sempre contou com o apoio popular e a certa altura decidiu até incorporar o slogan em suas campanhas eleitorais.
Em 2005, na reeleição de Lula, quando pipocavam as denúncias escabrosas do Mensalão, não foi diferente. Mesmo sabendo do envolvimento de vários caciques do PT e do governo no Mensalão e das suspeitas existentes sobre a participação do próprio Lula no propinoduto montado pelo partido, milhões de eleitores brasileiros deram seu aval nas urnas à reeleição. Agora, em meio aos escândalos do Petrolão e a uma série indescritível de casos de corrupção que derrubariam o governo de qualquer país sério do mundo, a candidatura do PT mostra, mais uma vez, uma resiliência incompreensível – ao menos até o momento.
Hoje, o “rouba, mas faz” de Ademar de Barros parece mais atual do que nunca. Seu slogan, porém, ganhou uma nova versão – o “rouba, mas distribui”. Como acontecia com a velha esquerda marxista-leninista brasileira, que apoiava (e muitos ainda apoiam) as ditaduras de Joseph Stálin e Mao Tsé Tung, mesmo diante das atrocidades cometidas pelos dois líderes, muitos dos partidários de Dilma e do PT prefirem fazer vistas grossas aos pecados capitais do partido e de seus gurus. Tudo, aparentemente, em nome da causa maior da igualdade pregada pelos socialistas e comunistas, que seria encarnada por direito divino pelos petistas e pelo PT, em detrimento da liberdade de expressão e da pluripartidarismo garantidos pelas “democracias burguesas”. Ou, então, para manter a “boquinha” e os privilégios conquistados com a já longínqua ascensão ao poder.
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