Antes das eleições, quando a economia degringolou, fruto dos equívocos em série perpetrados pelo governo nos últimos anos, a presidente Dilma Rousseff logo atribuiu a culpa aos catastrofistas da hora – uma categoria formada por todos aqueles que não compartilhavam do ufanismo oficial e procuravam fazer uma análise independente do cenário macroeconômico do país.
Dilma criticou duramente os autores de “profecias pessimistas” e afirmou que eles eram responsáveis por propagar a “mentira” e a “desinformação”. “Como na Copa, vamos dar uma goleada nos pessimistas”, disse Dilma, em julho, num comício em Guarulhos, na Grande São Paulo – um discurso repetido por ela, como um mantra, durante a campanha em praticamente todo o país.
Hoje, apenas uma semana depois de serem abertas as urnas, a encenação eleitoral montada por Dilma e pelo PT já não para mais em pé. A (dura) realidade, que o governo manteve em segredo até que os votos fossem contados, começa a se impor à fantasia petista. Infelizmente, as piores previsões feitas pelos analistas estão se confirmando, uma após a outra, em tempo recorde. Elas comprovam o desastre que foi a gestão de Dilma e a herança maldita que ela deixará para si mesma no segundo mandato.
Do rombo recorde nas contas públicas à elevação de juros, do déficit nas contas externas aos questionamentos contra o protecionismo nacional, os sintomas de desgoverno na economia são evidentes. No final, Dilma está fazendo exatamente o que ela disse que o economista Armínio Fraga, indicado por Aécio para ser seu ministro da Fazenda, iria fazer, caso o candidato do PSDB ganhasse o pleito.
Com a divulgação de uma enxurrada de números negativos na economia após a eleição, é difícil não acreditar que Dilma mandou segurar as notícias ruins para favorecer ela mesma e o PT nas urnas. E, como se a dureza das medidas não bastasse, os brasileiros ainda terão de conviver com a incômoda sensação de terem sido enganados – para dizer o mínimo – por Dilma e pelo PT na campanha. Talvez, se PSDB fosse governo e a mesma coisa estivesse acontecendo, os petistas já estivessem falando em “estelionato eleitoral” e pedindo o impeachment do presidente, como aconteceu após a reeleição de Fernando Henrique. Não podem, portanto, reclamar do destino agora.
Diante do quadro de desgoverno na economia, que qualquer analista digno do nome já havia antecipado, não é de estranhar que o Brasil liderado por Dilma tenha afugentado os investidores do país e do exterior e esteja na eminência de perder o grau de investimento tão duramente conquistado junto às agências internacionais de classificação de risco.
Confira abaixo a sequência de más notícias anunciadas na economia na última semana:
* Na quarta-feira, dia 29, o Banco Central anunciou o aumento dos juros, para 11,25% ao ano, para tentar manter a inflação sob controle;
* Na quinta-feira, dia 30, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, o “pai” da “contabilidade criativa”, que ajudou a minar a confiança dos investidores na política econômica do país, anunciou um déficit de R$ 25,8 bilhões nas contas públicas em setembro e de R$ 19,5 bilhões no ano, o maior desde 1991;
* Na sexta-feira, dia 31, a União Europeia acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os incentivos concedidos pelo governo para a industria nacional, em especial para o setor automobilístico;
* Nesta segunda-feira, dia 3, o Ministério do Desenvolvimento informou que, em outubro, a balança comercial do país teve o pior resultado para o mês em 16 anos, com um déficit de US$ 1,2 bilhão.
Não é pouca coisa – e não custa lembrar, mais uma vez, que faz só uma semana que o Brasil foi às urnas. A grande dúvida é se, Dilma, em seu segundo mandato, irá reconhecer os erros do passado, para poder repará-los, recuperar a confiança dos investidores aqui e lá fora, e recolocar o país na trilha do crescimento. A julgar pelo que se conhece de Dilma, nada indica que isso irá acontecer. Só o tempo dirá se, desta vez, Dilma vai mostrar que o pessimismo com o futuro da economia em seu governo era injustificado.
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