O chamamento da presidente Dilma para que seus ministros “travem a batalha da comunicação” deveria, talvez, ser endereçado a ela mesma – e não é de hoje.
É “estarrecedor”, para usar a palavra preferida por Dilma na campanha eleitoral, que ela não tenha encontrado argumento melhor para comentar a decisão da Moody’s, uma das principais agências internacionais de classificação de risco, de rebaixar a nota de crédito da Petrobras e tirar o grau de investimento da empresa.
Confira o texto publicado originalmente no site da revista Época
Diante da notícia incômoda, mas esperada, frente aos descalabros ocorridos na Petrobras nos últimos anos, Dilma teve o desplante de dizer que a decisão da Moody’s mostrou “uma falta de conhecimento” do que está acontecendo na estatal – uma afirmação que não tem a menor base de sustentação na realidade.
Primeiro, porque qualquer cidadão minimamente antenado sabe que essas avaliações costumam ser feitas com base em criteriosas análises da situação financeira da empresa.
Segundo, porque a Moody’s não tomou essa decisão por perseguição ao governo brasileiro ou à Petrobras, mas para proteger os compradores de seus papéis, em especial os estrangeiros, que poderão ser afetados por eventuais dificuldades de caixa e pelo adiamento dos planos de investimento da empresa.
Terceiro, porque, as outras duas grandes agências de classificação de risco – a americana Standard & Poor’s e a britânica Fitch poderão seguir o mesmo caminho em breve, de acordo com analistas de mercado, demonstrando que a percepção do problema é generalizada.
Quarto, e talvez o ponto mais importante, porque, ao dizer que faltou informação à Moody’s sobre a Petrobras, Dilma está colocando na berlinda o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Conforme informações divulgadas pelos jornais, Levy teve um encontro reservado com executivos da Moody’s na semana passada, em Nova York, e tentou de tudo para convencê-los de que, se a situação financeira se agravasse, o governo usaria recursos do Tesouro para salvar a Petrobras.
Ontem, aos 45 minutos do segundo tempo, Levy, ainda tentou por telefone, em vão, uma última cartada, ao oferecer uma “carta de conforto” que garantiria, por escrito, o comprometimento do governo brasileiro com o aporte de recursos na estatal, caso isso fosse mesmo necessário.
Ao afirmar, portanto, que faltou conhecimento à Moody’s sobre a Petrobras, Dilma está dizendo, ainda que involuntariamente, que Levy não teve competência suficiente para apresentar aos analistas da agência os argumentos que, no seu entender, poderiam convencê-los a não adotar a medida.
Como Levy é hoje a principal âncora de Dilma para recuperar a credibilidade do governo e a confiança dos empresários na política econômica, é difícil imaginar que era isso realmente o que ela queria dizer.
Se desejar realmente vencer a “batalha da comunicação”, Dilma terá de encontrar argumentos mais sólidos e críveis para explicar situações delicadas de seu governo, como o rebaixamento de que foi alvo a Petrobras. Mas, por tudo o que conhecemos sobre as suas dificuldades de comunicação e as manobras dos marqueteiros do PT e do governo para negar o inegável, talvez seja esperar demais.
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