Um ministro de Dilma revelou recentemente que o governo encomendou pesquisas qualitativas para entender as razões da queda de popularidade da presidente e “o ódio de São Paulo” – o carro-chefe dos protestos realizados no domingo em todo o país. Nesta altura do campeonato, já deve estar pronta também a pesquisa nacional encomendada pelo PT no final do ano passado, para identificar as causas e possíveis soluções para o antipetismo crescente no país.
Se o governo e o PT olhassem para dentro de casa, em vez de procurar razões externas para explicar a rejeição popular, provavelmente não precisariam recorrer aos institutos de pesquisa. Pelo que se pode captar do grito das ruas, a rejeição a Dilma, ao governo e ao PT não tem a ver só com a ideologia esquerdista do partido. Está ligada também ao desprezo e à arrogância que Dilma, o PT e seus líderes demonstram pela inteligência alheia.
Confira o texto publicado originalmente no site da revista Época
Para tentar vencer a “batalha da comunicação”, como diz Dilma, ou “desconstruir” o discurso da oposição, como preferem os marqueteiros, vale tudo. Essa estratégia ainda pode fazer sucesso entre as milícias petistas, que já estariam alinhadas com o partido de qualquer maneira, e entre os eleitores menos informados. Mas, entre os eleitores da classe média para cima, com maior nível de escolaridade, já não produz um resultado positivo. Ao contrário. Só estimula o aumento da rejeição por Dilma, pelo governo e pelo PT.
Confira abaixo uma lista com cinco pontos que explicam, em boa medida, essa percepção negativa, especialmente nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do país.
1.A traição aos ideais do partido – Quando surgiu, em 1980, o PT pretendia ser um partido político não apenas diferente, mas melhor que os outros. Hoje, 35 anos depois, o PT se tornou igual ou pior que os outros, para decepção de muita gente que acreditou nas boas intenções do partido. Depois de Lula afirmar que, no Congresso Nacional, havia “uma maioria de 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses”, o PT criou o mensalão, para aprovar os projetos de interesse do governo, e o petrolão, para financiar o partido com propinas arrecadadas na Petrobras. Na campanha de 2014, Dilma garantiu que não adotaria o programa de ajuste defendido por Aécio, considerado “neoliberal”, para equilibrar as contas públicas. Disse que geraria recessão e desemprego. Mas, depois de empossada, fez exatamente o contrário do que havia dito.
2. O envolvimento em casos de corrupção – Antes de assumir o poder, em 2003, o PT se colocava como um arauto da ética e da moralidade. Hoje, 12 anos depois, o PT pode se vangloriar de um feito: “nunca antes na história desse país”, como diria Lula, um partido conseguiu desenvolver uma tecnologia tão sofisticada de desvio de recursos públicos para seus líderes e para financiar as campanhas eleitorais de seus candidatos. Contra todas as evidências apuradas até agora, o PT e seus líderes teimam em questionar a credibilidade das investigações. Embora o propinoduto fosse institucionalizado, de acordo com os depoimentos colhidos até agora na operação Lava Jato, o PT poderá “sacrificar” João Vaccari Neto, seu tesoureiro, acusado de ser o operador do esquema, para tentar salvar o partido, envolvido até a medula no petrolão. Apesar de nada ter sido provado contra Dilma até agora, muita gente boa por aí considera que ele pode ser co-responsabilizada no escândalo da Petrobras, ocorrido durante a sua gestão e a de Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, na presidência do conselho de administração da companhia.
3. A mentira e a negação de problemas – Para evitar que ações desastradas do governo respinguem em sua popularidade, Dilma e o PT constroem, com apoio de seus marqueteiros, um discurso fantasioso. Tentam transformar seus fracassos em sucessos. Como Joseph Goebbels, o temido ministro nazista de propaganda, a máquina de comunicação petista basear-se no princípio de que “uma mentira repetida diversas vezes transforma-se numa verdade”. Talvez nada seja mais emblemático neste quesito do que a propaganda do PT na campanha de 2014, quando a candidata Marina Silva foi acusada de querer tirar a comida da mesa do povo e acabou perdendo apoio dos eleitores. A tal da “contabilidade criativa” – um expediente usado por Dilma para esconder “esqueletos” nas contas públicas – também ilustra com perfeição esse ponto.
4. A recusa em assumir os erros – Em vez de seguir a máxima de que a melhor atitude é sempre reconhecer os próprios erros e assumir a responsabilidade por eles, Dilma e o PT preferem atribuir a culpa a terceiros. Já virou meme nas redes sociais a mania que o PT e seus líderes têm de atribuir todos os problemas do país ao ex-presidente Fernando Henrique sempre que eles se veem numa situação desconfortável. Ainda hoje Lula e o PT continuam a negar que líderes do partido tenham se envolvido no mensalão. Afirmam, no Brasil e no exterior, que o tempo mostrará que foi um “processo político” para prejudicar o PT. No caso do petrolão, não é diferente. Dilma, por seu turno, continua a negar que a economia brasileira tenha descido a ladeira por causa de sua gestão desastrada no primeiro mandato. Ela insiste até hoje que a paradeira geral da economia do país é um reflexo da crise global, ocorrida no final de 2008.
5. O “nós” conta “eles” – Em vez de agir como presidente de todos os brasileiros, Dilma, Lula e o PT estimulam o antagonismo entre as classes sociais. Como os comunistas de outrora, eles se colocam como se fossem os únicos e legítimos porta-vozes do “povo brasileiro”. Qualquer opositor é tratado como inimigo a ser exterminado, para não ameaçar o projeto de poder do partido. Para eles, só pode estar contra o governo do PT quem é da “zelite“ e quer manter seus privilégios. Não conseguem entender que muita gente, pobres e ricos, pensa diferente e quer ver o Brasil seguir outros caminhos.
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