EI

Dilma agora critica a “barbárie”, mas já foi acusada de defender o “diálogo” com o Estado Islâmico. Lembra? Quem ouve o que a presidente brasileira fala hoje não pode esquecer do vexame dado em Nova York, no ano passado, quando ela criticou os bombardeios dos EUA contra os terroristas na Síria

Diz a sabedoria popular que o povo tem memória curta – e é provável que, na maior parte das vezes, tenha mesmo.

A reação de Dilma aos ataques terroristas promovidos pelo Estado Islâmico (EI) em Paris, no final da semana passada, que deixou 129 mortos e 352 feridos, é o melhor exemplo.

Quem ouve Dilma falando hoje, ao se declarar chocada com a “barbárie” e defender “um combate sem tréguas ao terrorismo”, tem a impressão de que ela sempre foi uma paladina da civilização em meio às atrocidades cometidas pelo EI. Nem de longe é possível imaginar que até pouco tempo atrás ela criticava enfaticamente a ação ocidental contra os terroristas na Síria.

Leia o texto publicado no site da revista Época

Foi isso, porém, o que aconteceu. Numa entrevista coletiva realizada em setembro do ano passado, em Nova York, na véspera de fazer o discurso da Assembleia Geral da ONU, Dilma disse, em resposta a uma pergunta sobre o que pensava dos ataques dos Estados Unidos ao EI na Síria: “Lamento enormemente isso. O Brasil sempre vai acreditar que a melhor forma é o diálogo, o acordo e a intermediação da ONU”.

Embora Dilma não tenha dito com todas as letras que defendia o diálogo direto com os terroristas, sua afirmação deu margem a essa interpretação. Depois, como costuma acontecer, Dilma negou que tivesse dito o que se acreditou que ela disse. “Houve um deliberada tentativa de confundir uma coisa com a outra”, afirmou, numa entrevista concedida dias depois aos blogueiros amigos, que fazem parte da tropa de choque do PT, mantidos com fartas verbas publicitárias oficiais.

Infelizmente, não consegui localizar no YouTube um vídeo da coletiva de Dilma nos EUA. Há apenas a gravação de seu discurso na Assembléia Geral da ONU, no dia seguinte. No discurso, realizado às vésperas das eleições do ano passado no Brasil, ela fez, como seria de se esperar, um longo exercício de autopromoção. Criticou só de passagem as ações armadas americanas na Síria.

Mas, considerando a “diplomacia bolivariana” praticada pelo governo petista desde os tempos de Lula, que inclui declarações de apoio ao ex-ditador líbio Muammar al-Gaddafi e relações de pai para filho com Fidel Castro e com o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não seria um ponto fora da curva Dilma ter pedido ao mundo diálogo com os terroristas do Estado Islâmico. Até porque ecoaria a tolerância expressa por uma parcela significativa da esquerda do país com as ações da organização.

É sempre possível que, de repente, Dilma tenha sido iluminada por alguma força superior e mudado para valer de opinião a respeito do assunto. Melhor assim. Agora, recordar não ofende. Nunca é demais lembrar as trapalhadas que Dilma já cometeu por aí, representando o Brasil pelo mundo afora.