O economista Paulo Rabello de Castro, de 57 anos, diz que o Brasil não vai escapar ileso da crise internacional. Formado na Escola de Chicago, reduto do liberalismo americano, ele afirma também que a crise não vai durar apenas uns poucos dias, como aconteceu no ano passado. “Desta vez, parece que o ajuste vem para ficar”, diz. “Na hora em que os analistas mais respeitados começam a repetir ‘temos um problema’, ele costuma ficar até maior do que é, ao menos durante algum tempo.”
ÉPOCA – Como o senhor vê a atual instabilidade das Bolsas?
Paulo Rabello de Castro – É um pouco cara-de-pau eu dizer que isso já era esperado. Mas o fato é esse. No início de dezembro, fiz uma palestra com outros consultores econômicos e disse que o ano de 2008 vai ser muito difícil. O problema americano hoje não é só relacionado ao crédito imobiliário concedido para pessoas de menor poder aquisitivo, algumas delas imigrantes ilegais, que têm empregos mais precários. Envolve toda a capacidade de pagar do cidadão americano, principalmente nas camadas menos favorecidas. E já deixou de ser restrito ao crédito pessoal. Tornou-se um problema de crédito entre instituições financeiras. Desde setembro, há uma retração no crédito interbancário, realizado entre instituições financeiras internacionais.
ÉPOCA – A queda das Bolsas de Valores assusta, não?
Castro – O que mais cresce num momento de euforia e o que mais decresce num momento de desânimo do mercado são os preços dos ativos, das ações até os imóveis. No mercado imobiliário americano, a queda média dos preços deve estar entre 15% e 20%. Não é brincadeira, porque os imóveis são usados como garantias de crédito. Isso afeta todo o sistema financeiro. Esse ajuste leva tempo e, enquanto ele está ocorrendo, ninguém se aventura a comprar mais ativos.
ÉPOCA – Quanto tempo isso vai durar?
Castro – Certamente, não será questão de uns poucos dias. Desde o ano passado, o mercado vem ensaiando um ajuste. Por mais de uma vez, em 2007, o mercado deu um susto de alguns dias e depois voltou com uma euforia tão grande quanto antes da queda. Desta vez, parece um ajuste que vem para ficar. Primeiro, porque isso está combinado em Wall Street. Nesse mercado instantâneo, em que as informações circulam globalmente em tempo real, praticamente se combina qual será a convicção corrente. Em que deus nós estamos acreditando? Normalmente, é no deus da alta. Mas, quando o mercado combina que é no deus da baixa, a tendência passa a ser de baixa. Na hora em que os analistas mais respeitados começam a dizer “temos um problema”, ele costuma ficar até maior do que é, ao menos durante algum tempo.
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