A ida da “presidenta” Dilma ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, é uma daquelas iniciativas oficiais que poderiam ser incluídas na categoria do “me engana que eu gosto”.
Tramada pelos marqueteiros do governo e do PT para lustrar a imagem de Dilma e mostrar que ela é “amiga” do mercado, a viagem a Davos pode até enganar os incautos, mas quem acompanha de perto o país e o dia a dia de Brasília dificilmente se deixará iludir pela manobra.
Desde o início da crise global, em 2008, ainda na gestão de Lula, um presidente brasileiro não participa do Fórum de Davos – e isso não aconteceu por acaso. Nos últimos cinco anos, o governo e o PT fizeram troça do capitalismo e sempre que lhes deram palanque lá fora apoiaram, sem cerimônia, ações em defesa de um maior intervencionismo do Estado na economia.
Influenciados por um viés ideológico da década de 50, na época da Guerra Fria, Lula e Dilma acabaram provocando um atraso de dez anos na modernização da infraestrutura do país, ao travar as concessões de portos, aeroportos, estradas e ferrovias à iniciativa privada. Só agora, depois de constatar o óbvio – que o Estado simplesmente não tem dinheiro para bancar os projetos –, é que Dilma e o PT aceitaram recorrer ao capital privado.
Os primeiros três anos de Dilma na presidência foram, provavelmente, os de maior intervenção do governo na economia desde os tempos em que o ex-ministro Antônio Delfim Neto era o todo poderoso czar da economia, durante o regime militar, nos anos 70. A lista de interferências de Brasília parece não ter fim. Dilma represou preços administrados, como os dos combustíveis, para conter artificialmente a inflação; tentou baixar os juros bancários por decreto; meteu a mão no câmbio e taxou os importados; interveio nos contratos de energia elétrica e descumpriu o acordo de veículos fechado com o México. Isso sem falar da chamada “contabilidade criativa”, usada para maquiar as contas públicas e apresentar um superávit primário para inglês ver, e dos financiamentos a juros de pai para filho concedidos aos eleitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Com esse retrospecto, não é de estranhar que a desconfiança de empresários e investidores em relação a Dilma esteja em seu ponto máximo. Sob este ponto de vista, tem até certa lógica que os marqueteiros oficiais e os estrategistas políticos petistas tenham engendrado a viagem de Dilma a Davos, o grande templo do capitalismo global.
É pouco provável, porém, que Dilma, que até anteontem queria limitar o lucro nas concessões de serviços públicos, levando ao afastamento dos investidores dos leilões, tenha “feito a crítica” de suas posições e se convertido subitamente em arauto da iniciativa privada. Depois de tomar tanta paulada, só mesmo “mulher de malandro” (ou homem de malandra, se você preferir) para acreditar que a súbita mudança nas convicções de Dilma é para valer e que sua ida a Davos não é apenas mais um golpe dos marqueteiros do Planalto e do PT.
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