O escritor e jornalista cubano Carlos Alberto Montaner, de 65 anos, é um dos críticos mais ácidos – e mais bem-humorados – da esquerda latino-americana. Não poupa nem mesmo o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo apoio que dá a seu colega venezuelano Hugo Chávez. “O Lula faz uma coisa parecida com o que fazia o PRI (Partido Revolucionário Institucional, do México) quando estava no poder: pratica uma política conservadora dentro do país e faz um jogo sujo na política externa”, diz. “Usa seu coração de esquerda no exterior. E, no Brasil, governa com o ventrículo direito.”
No fim dos anos 90, Montaner tornou-se mais conhecido no país com a publicação do livro Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano, escrito em conjunto com o colombiano Plínio Apuleyo Mendoza e o peruano Álvaro Vargas Llosa (filho do escritor Mário Vargas Llosa). O livro traçava um retrato patético das idéias revolucionárias que se mantinham vivas na região, no limiar do século XXI, inspiradas no ex-presidente cubano Fidel Castro e no mito de Che Guevara, um dos mais famosos guerrilheiros comunistas da História, morto na Bolívia em 1967. Recentemente, lançou A Volta do Idiota, também escrito em parceria com Mendoza e Llosa. O livro foi inspirado pela ascensão ao poder de Chávez e dos presidentes da Bolívia, Evo Morales, do Equador, Rafael Correa, e até de Lula, no Brasil. “Quando escrevemos o Manual do Perfeito Idiota, acreditávamos que isso era coisa do passado. Agora, descobrimos que não é. Provavelmente, dentro de dez anos, comprovaremos que o Idiota é imortal”, afirma Montaner. No início de abril, depois de dar uma palestra sobre “Mercados Globais e Estados Nacionais” no Fórum da Liberdade, promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE), em Porto Alegre, ele falou a ÉPOCA sobre seu novo livro, o futuro de Cuba pós-Fidel e sobre os erros cometidos pelas elites latino-americanas.
ÉPOCA – Há dez anos, o senhor escreveu o Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano. Por que voltar ao assunto agora?
Carlos Alberto Montaner – Quando publicamos o Manual do Perfeito Idiota, acreditávamos, de forma equivocada, que isso era coisa do passado. Agora, decidimos escrever A Volta do Idiota porque descobrimos que não é. Ele sempre esteve aí. Provavelmente, em dez anos, comprovaremos que o Idiota é imortal.
ÉPOCA – A que o senhor atribui o crescimento da esquerda na América Latina?
Montaner – Acredito que isso é resultado dos erros cometidos no passado. A sociedade não se via representada no Estado, não sentia que seus interesses eram atendidos. Deve-se também ao comportamento arbitrário e muitas vezes injusto e à margem da lei das classes dirigentes. A relação entre a sociedade e o Estado estava montada em cima da cumplicidade entre as classes dirigentes e os governantes. Tudo isso foi desgastando a idéia de que a saída para a superação dos problemas se encontrava no trabalho e na responsabilidade.
“O Lula usa seu coração de esquerda no exterior. E, no Brasil, governa com o ventrículo direito”
ÉPOCA – Como o senhor vê o apoio de Lula a Chávez e outros líderes de esquerda da região, como Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador?
Montaner – O Lula faz uma coisa parecida com o que fazia o PRI, partido que governou o México durante sete décadas. Pratica uma política conservadora dentro do país e faz um jogo sujo na política externa. Usa seu coração de esquerda no exterior. E, no Brasil, governa com o ventrículo direito. É lamentável que Lula, que tem um grande respaldo popular dos brasileiros, tenha o repúdio de 60%, 70% dos venezuelanos. Eles o vêem como um aliado de Chávez. Quando as coisas na Venezuela mudarem, a população não vai sentir o governo de Lula como amigo. Vai vê-lo como um governo que ajudou um regime que violou seus direitos.
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