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As trapaças na Bolsa de Valores Os investidores inescrupulosos não estão só em Wall Street. No Brasil, a CVM investiga os golpes milionários contra os pequenos acionistas

A expressão circula há décadas entre os operadores da Bolsa de Valores: “Não há freiras nos pregões”. Significa que, na hora de comprar e vender ações, ninguém se preocupa muito com a moralidade. A busca do lucro, em si, não é condenável. Como disse o filósofo escocês Adam Smith, um dos fundadores da economia moderna, nós obtemos nosso pão toda manhã não pela alegria do padeiro em nos servir, mas por sua disposição de auferir lucro. Também na Bolsa essa disposição é benéfica. A busca frenética por grandes oportunidades é um dos motores da economia. Ela dirige o capital dos investidores para os locais onde ele será usado com maior eficiência. O problema surge quando, na ânsia de ganhar dinheiro rápido, os investidores ignoram os limites éticos.

Sem regras claras e uma autoridade vigilante, a tendência é a proliferação das “espertezas”. A mais comum é o uso de informações reservadas, segredos de negócio, para realizar operações financeiras antes de todo mundo. (Um exemplo: um diretor da companhia A, sabendo de um projeto revolucionário, compra ações de sua própria empresa antes de o projeto ser anunciado. Quando ele finalmente se torna público, as ações se valorizam, e o diretor as vende, embolsando a diferença.) Tirar proveito de informações secretas é considerado insider trading (negociação de alguém de dentro) e é obviamente proibido por lei. Mesmo assim, sempre houve, no Brasil, uma sensação de impunidade. Isso está começando a mudar. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsável pela vigilância do mercado de capitais, está apertando a fiscalização, aumentando o valor das punições, acelerando os processos. Em alguns dos casos mais significativos, a CVM enquadrou grandes banqueiros, empresários de sucesso e executivos do alto escalão – de Jorge Paulo Lemann, um dos principais acionistas da AmBev, e Rubens Ometto, controlador da Cosan, maior empresa de biocombustíveis do país, a diretores da Petrobras e do banco de investimentos Credit Suisse (leia o quadro) .

Espertezas no mercado de capitais não são privilégio brasileiro. Existem em todo lugar, a ponto de se tornar tema recorrente no cinema. Um dos símbolos da falta s de escrúpulos na Bolsa é Gordon Gekko, personagem do filme Wall Street – Poder e cobiça, do diretor Oliver Stone, que rendeu ao ator Michael Douglas o Oscar de Melhor Ator. No filme, de 1987, Gekko, cujo mantra era “a ganância é boa”, se dá mal ao tentar praticar insider trading. O filme terá uma continuação, com o mesmo Michael Douglas no papel de Gekko, a ser lançada em setembro nos Estados Unidos e no Brasil. Em Wall Street – The money never sleeps (Wall Street 2 – O dinheiro nunca dorme) , Gekko volta à liberdade depois de passar 23 anos na prisão e tenta, sem sucesso, avisar os tubarões do mercado sobre o colapso iminente da Bolsa e a aproximação de uma grande crise internacional.

Leia a reportagem completa publicada na revista Época