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André Esteves: “Xô, complexo de inferioridade!” Obanqueironarrasuaemocionante trajetóriarumoaotopodomundo das finanças e afirmaque há no Brasilempreendedores tão bons quanto nos países mais ricos

O banqueiro André Esteves, de 43 anos, é um dos empreendedores de maior sucesso no Brasil nas últimas décadas. Nascido e criado na Tijuca, bairro de classe média no Rio de Janeiro, Esteves ergueu um império com ramificações nos principais centros financeiros internacionais, como Nova York, Londres ou Hong Kong. Num setor dominado por gigantes, fez de seu BTG Pactual o maior banco de investimento da América Latina e se tornou um dos homens mais ricos do Brasil, com uma fortuna estimada hoje em cerca de US$ 5 bilhões (R$ 9,5 bilhões). Na quarta-feira passada, durante um agradável almoço que se estendeu por quase três horas, realizado numa sala de reuniões do Q.G. do banco, na Avenida Faria Lima, Zona Sul de São Paulo, Esteves falou a ÉPOCA sobre sua trajetória no mundo das finanças, sua vida pessoal e sua família. Deu sua receita para quem quer prosperar nos negócios, não titubeou na hora de discutir seus erros e revelou as lições que extraiu do sucesso. Esteves diz que teve dificuldades financeiras na infância e na adolescência e que, quando o dia era bom, levava a namorada – hoje sua mulher, Lílian – para comemorar no McDonald’s. “A vida era dura”, diz. “Quando era criança e minha mãe me perguntava o que queria de Natal, eu falava: ‘Não precisa nada, não’.” A seguir, os principais trechos da entrevista.

ÉPOCA – Quais as principais características de um empreendedor para ele se dar bem nos negócios?
André Esteves – Primeiro, é preciso gostar de trabalhar, de fazer e ser otimista – com a capacidade de fazer, acreditar que você vai conseguir, vai se superar. Os pessimistas não são grandes empreendedores. Também é preciso saber conviver bem com o erro. Não faz mal errar. No nosso negócio, encorajamos as pessoas a errar. Não temos medo do erro. É claro que você não pode viver do erro, mas ele é essencial para o crescimento. Você erra todo dia. Você acredita que uma empresa X terá um bom desempenho, mas ela não tem. Acha que a economia vai ter um desempenho assim ou assado, mas ela não tem. No mercado financeiro, aqueles que conseguem conviver bem com o erro, que deixam os acertos fluir e conseguem cortar e reconhecer rapidamente o erro são os que têm o melhor desempenho. Para isso, é preciso ter honestidade e humildade intelectual. Aqui no banco, a gente reconhece o erro rápido, porque, se não fizer isso, morre.

ÉPOCA – Qual foi seu maior erro, aquele que lhe deixou a lição mais preciosa? Que lição foi essa?
Esteves – Foi a operação de venda do antigo Pactual para o (banco suíço) UBS, em 2006. Não foi bem um erro, mas um aprendizado fantástico. A gente acreditava que era a melhor maneira de nos globalizarmos. Hoje, vejo que havia maneiras mais inteligentes. A gente teve o talento e talvez um pouco de sorte de conseguir recuperar nossa plataforma (o Pactual, recomprado do UBS em 2008). Tivemos, também, um aprendizado enorme dentro do UBS sobre como uma companhia multinacional funciona. O UBS não era apenas o maior banco da Europa. Era a maior companhia da Europa. Participar da gestão e daquele momento dramático, durante o pico da crise, foi um grande aprendizado. Melhorou a qualidade da companhia que somos hoje.
Minha mãe perguntou se no banco eu ganharia mais. Respondi: ‘menos’. Ela perguntou: ‘menos?’. ‘Filho, você vai confiar em banqueiro?’ ”

ÉPOCA – Nessa época, o senhor trabalhou em Londres. Como foi, para um brasileirinho da Tijuca, comandar uma das divisões mais importantes do maior banco da Europa, no olho do furacão?
Esteves – A crise teve um efeito colateral positivo para o Brasil, para nossa autoestima. A gente tinha um complexo de inferioridade pelos erros do passado, pelos desmandos em nossa economia, pelo populismo. O desastre mundial permitiu a recuperação de nossa autoestima empresarial. No Brasil, existem companhias, veículos de comunicação, órgãos reguladores, bancos de qualidade mundial. Antes da crise, já éramos assim, mas achávamos que não éramos. Hoje, o BTG Pactual tem gente tão boa quanto os melhores bancos do mundo. Quando estava lá, pude perceber isso. Aprendi que essas empresas farão muitas coisas melhor que a gente, mas há muitas outras que podemos fazer melhor. Xô, complexo de inferioridade! Temos uma economia com perspectiva excepcional. Não tem nenhum grande problema estrutural. Claro que temos desafios. Mas temos companhias maravilhosas, histórias empresariais maravilhosas, com um monte de gente com princípios corretos. Temos negócios de classe mundial em vários setores – e o BTG Pactual é um deles. O sucesso só depende da gente.

Leia a entrevista completa publicada na revista Época

Leia a reportagem de capa Da Tijuca para Wall Street publicada na revista Época