Depois de 12 anos de hegemonia quase absoluta do PT, durante os quais a oposição pouco fez para desempenhar de forma efetiva o seu papel, a campanha eleitoral de 2014 está revelando os contornos de um novo Brasil. Qualquer que seja o resultado das urnas no dia 26, as eleições deste ano ficarão marcadas por um fenômeno que muitos analistas, como o marqueteiro do PT, João Santana, consideravam improvável: a possibilidade concreta de derrota do PT e o resgate da autoestima da oposição. Não apenas a autoestima dos políticos dos partidos oposicionistas e de seus militantes, mas principalmente a de dezenas de milhões de cidadãos e cidadãs que até pouco tempo atrás evitavam declarar abertamente suas posições, com receio da reação das milícias petistas e das patrulhas ideológicas que proliferaram no país desde que Lula assumiu o poder, em 2003.
Sem medo de enfrentar as críticas da tropa de choque do PT e de partidos mais radicais de esquerda, como o PSOL e o PSTU, que defendem o marxismo-leninismo, apesar de se beneficiarem da “democracia burguesa” para existir, milhões de brasileiros decidiram “sair do armário”. Nas ruas das grandes e pequenas cidades do país, é possível observar hoje o renascimento do “orgulho” oposicionista, incensado pela bandalheira instalada pelo PT no governo federal e nas empresas estatais, como a Petrobras e os Correios, que foram aparelhadas para servir de ponta de lança à máquina de arrecadação petista. Não importa a idade, a classe social ou a profissão. Hoje, a ação dos ativistas de esquerda, por meio do bullying ideológico, já não intimida ninguém (ou quase ninguém) no país.
Obviamente, com sua postura altiva na campanha, Aécio Neves, o candidato do PSDB e da oposição, está dando uma contribuição milionária para levantar o astral de quem não concorda, nem compactua, com tudo-isso-que-está-aí. Com suas reações duras às manobras e manipulações de dados e informações pelo PT, Aécio está atraindo um exército de seguidores, que estavam órfão de líderes verdadeiros, daqueles que não fogem da raia na hora em que a disputa aperta.
Ao contrário das campanhas de José Serra e Geraldo Alckmin em 2002, 2006 e 2010, Aécio deixou de ouvir calado todos os tipos de acusações. Em vez de apanhar em silêncio e, como Jesus, dar a outra face para o adversário estapeá-lo, Aécio adotou a estratégia do “bateu, levou”. Não por acaso, alguns analistas começam a questionar se ainda faz sentido manter o tucano, conhecido por suas bicadas suaves, como símbolo do PSDB. Apesar de a troca de acusações pessoais entre Aécio e Dilma ter pouco ou nada a ver com a campanha propositiva que se espera numa eleição presidencial, sua atitude enérgica, em resposta às acusações do PT, acabou reforçando os brios oposicionistas de boa parte do eleitorado e o sentimento de indignação e inconformismo com os rumos do país.
Ao assumir com orgulho o passado do PSDB e as realizações de Fernando Henrique em seus dois mandatos como presidente, como o Plano Real, o lançamento de programas sociais e a privatização de estatais como a Telebras, a Vale e a Embraer, Aécio também está reforçando o ânimo dos brasileiros que acreditam que um Estado mais eficiente e produtivo, que atenda melhor às necessidades dos cidadãos, não precisa, necessariamente, ser um Estado-empresário, como o que existe hoje. É claro que a autoestima da oposição vai subir ainda mais se Aécio vencer a eleição, mas, desde já, pode-se dizer, sem medo de errar, que os tempos de subserviência ao governo petista chegaram ao fim. Se Dilma ganhar o pleito, certamente as trincheiras oposicionistas estarão bem montadas para resistir ao rolo compressor do governo no Congresso, nos estados e nos municípios.
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