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Aécio, a pizza e o despertar da oposição Depois de uma campanha agressiva, a conciliação é essencial. É difícil imaginar, porém, que, da noite para o dia, os adversários de ontem irão se abraçar e se beijar como se nada tivesse acontecido

Com a vitória da presidente Dilma Rousseff, multiplicaram-se as declarações em todas as frentes em defesa da “conciliação nacional”. Nas redes sociais, na mídia e nas conversas de botequim, partidários e simpatizantes tanto do PT quanto do PSDB têm defendido a ideia de que é hora de deixar as divergências para trás e de se unir para enfrentar os enormes desafios do país, como a redução da inflação, a volta do crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida da população.

No discurso da vitória, a presidente Dilma Rousseff disse, contra todas as evidências, que o país não foi dividido pelo voto. “Não acredito que essas eleições tenham dividido o país ao meio”, afirmou Dilma, em Brasília, no domingo à noite, em meio à euforia dos militantes do PT com o resultado do pleito. Até o candidato do PSDB, Aécio Neves, pregou a união do país, ao reconhecer sua derrota, em Belo Horizonte. “Cumprimentei agora há pouco por telefone a presidente reeleita e desejei a ela sucesso na condução do seu próximo governo”, disse Aécio. “E ressaltei que considero que a maior de todas as prioridades deve ser unir o Brasil em torno de um projeto honrado e que dignifique a todos os brasileiros.”

Diante da agressividade da campanha, as declarações dos dois candidatos em defesa da conciliação é uma demonstração de civilidade e do avanço institucional do país desde a redemocratização, em meados dos anos 1980. Não faz sentido defender a radicalização do processo, como fizeram as milícias que atacaram a sede da Editora Abril dois dias antes da eleição e a militância petista que gritou slogans hostis contra grupos de mídia em rede nacional de TV durante o discurso da vitória de Dilma – um momento que deveria ser de congraçamento e celebração.Também não faz sentido estimular o enfrentamento contra os adversários, em especial se isso servir de anteparo para pregações racistas e discriminatórias de quaisquer tipos.

Engana-se, porém, quem acredita que acabará tudo em pizza, como aconteceu nas eleições anteriores que o PT e seus aliados venceram. Não! É difícil imaginar que, da noite para o dia, os adversários de ontem irão se abraçar e se beijar como se nada tivesse acontecido. No campo institucional, os políticos até poderão fumar o “cachimbo da paz”, mas não é isso o que deseja uma parcela significativa da sociedade que apoiou Aécio.

Talvez mais que qualquer outra coisa, as eleições de 2014 marcaram o renascimento – ou será o nascimento? – da oposição no país. Desde a vitória de Lula em 2002, foi a primeira vez que o PSDB realizou uma campanha realmente de oposição, sem medo de assumir o legado do ex-presidente Fernando Henrique, como o Plano Real, a privatização de serviços públicos e a ampliação dos programas de complementação de renda, como o Bolsa Família.

Mais que os paulistas José Serra, candidato em 2002 e 2010, e Geraldo Alckmin em 2006, Aécio soube defender seus pontos de vista de forma aguerrida e atacar na medida certa os pontos fracos dos adversários quando foi o caso, apesar das acusações eleitoreiras de Lula de que ele desrespeitou Dilma e foi agressivo com ela nos debates. Sem se intimidar com a truculência da tropa de choque do PT e com os golpes baixos que sofreu na campanha, Aécio se tornou um líder respeitado e admirado por dezenas de milhões de brasileiros e não poderá agora simplesmente tirar o time de campo.

Se deixar de exercer o papel de líder da oposição que se espera dele, Aécio certamente perderá boa parte do capital político que acumulou na campanha e deixará órfã uma parcela significativa da sociedade brasileira, que foi às ruas em junho de 2013 e votou nele para mudar o rumo do país e dar um basta na bandalheira generalizada. Caberá a Aécio agora honrar a confiança de seus eleitores e mostrar que, pela primeira vez nos últimos 12 anos, o PSDB e seus aliados farão oposição para valer – e não apenas na hora de conquistar o voto.

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